Título: Este é apenas um ciclo que se fecha
Autor: Torres, Sergio ; Valle, Sabrina
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/01/2012, Economia, p. B1

Presidente da estatal diz que troca no comando é natural e garante que problema com sondas não causou desgaste

Algumas horas antes de embarcar para a Suíça, onde participará do Fórum Econômico de Davos, o presidente da Petrobrás, José Sergio Gabrielli, em entrevista por telefone, classificou sua saída do cargo como parte de um processo normal de mudança de gestão executiva. Para ele, chegou o momento de "fechar o ciclo". Gabrielli desmente qualquer atrito com o governo e nega que o intrincado processo de contratação de 21 sondas, cuja licitação foi suspensa no mês passado, tenha contribuído para sua saída. "Não tenho nenhuma informação de nenhuma notícia de uma mudança com tensão ou problemas", disse. A seguir, os principais trechos da entrevista:

Houve antecipação na sua saída? A que o sr. atribui a troca?

Estou na Petrobrás há nove anos. Como presidente, há seis anos e sete meses. Sou o presidente mais longevo da companhia. Acho natural que isso ocorra. É um ciclo que se fecha. O outro elemento que pesou na mudança foi o convite do governador Jaques Wagner. Estou indo para o governo da Bahia.

Para qual secretaria? É uma preparação para a campanha ao governo em 2014?

Não sei ainda para qual secretaria. O governador é que vai decidir. Estou indo para ajudá-lo no governo, não para fazer campanha. 2014 ainda está muito longe.

O que muda na Petrobrás com a troca na presidência?

Acho que não haverá grandes mudanças. A Graça (Foster) é uma profissional de altíssima qualidade, me dou muito bem com ela. Os grandes temas da companhia permanecem os mesmos, os processos, as formas, as pessoas. Acho que ela vai continuar trabalhando em perfeita sintonia.

As ações da Petrobrás estão subindo muito hoje (ontem). A que o sr. atribui isso?

Acho que à garantia da continuidade da empresa. O mercado não espera grandes mudanças.

Mas, é natural que a nova presidente mude nomes na diretoria...

Isso é tarefa do Conselho (de Administração). Não sei ainda o que será definido no próximo dia 14, mas é tarefa do conselho, do qual ainda sou membro, decidir sobre mudanças.

O que o sr. destacaria como marca de sua gestão na Petrobrás?

Em primeiro lugar, o fortalecimento do Sistema Petrobrás. Unificamos as funções corporativas, reorientamos a estrutura de gestão da companhia para um processo, e não para uma gestão de resultados, para aproveitar melhor o benefício de ser uma empresa grande como a Petrobrás. Também aceleramos o compromisso de crescimento com nossa cadeia de fornecedores. Por fim, identificamos gargalos operacionais e montamos programas para resolvê-los. Hoje, mais da metade do pessoal da Petrobrás tem menos de 10 anos de empresa. Renovamos muito o nosso quadro.

Há comentários de que o atraso na contratação das 21 sondas de perfuração teriam arranhado a relação entre a direção da empresa e o governo federal. Houve algum problema?

Acho isso absolutamente fantasioso. Trabalhamos sempre para o melhor resultado possível. Mas o ritmo de resoluções e definições depende da complexidade de cada assunto. A licitação das sondas é um problema complexo, mas não acredito que tenha tido qualquer influência. Não tenho nenhuma informação, das minhas conversas com a presidente Dilma, com os ministros (Guido) Mantega e (Edison) Lobão, com o governador Jacques Wagner nem com o ex-presidente Lula de nenhuma notícia de mudança com tensão ou problemas. Este é apenas um ciclo que se fecha.