Título: Governador da Bahia foi avisado da troca dia 4
Autor: Torres, Sergio ; Valle, Sabrina
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/01/2012, Economia, p. B1

Jacques Wagner soube pela própria Dilma que Graça Foster substituiria Gabrielli

O governador da Bahia, Jaques Wagner (PT), soube no dia 4, da boca da própria presidente Dilma Rousseff, que José Sergio Gabrielli seria demitido da presidência da Petrobrás. E que a substituta seria Maria das Graças Silva Foster, uma técnica filiada ao PT do Rio de Janeiro. Gabrielli é filiado ao PT da Bahia. Dilma tinha passado o fim de ano na Base Naval de Aratu, em Salvador.

Por causa das chuvas no Rio de Janeiro, Minas Gerais e Espírito Santo, ela decidiu retornar a Brasília no dia 5, uma quinta-feira. Mas, antes, decidiu avisar ao padrinho de Gabrielli que optara por fazer a troca no comando da Petrobrás. Para isso, chamou-o a Aratu.

De acordo com informações de interlocutores de Wagner, a presidente disse ao governador: "Decidi pôr a Graça Foster no lugar do Gabrielli. Como ele já manifestou a vontade de ser candidato a governador na Bahia, acho que chegou a hora de ele sair". Dilma, no entanto, não disse para Jaques Wagner quando faria a substituição.

A presidente da República afirmou ao governador baiano que estava preocupada com a gestão na presidência da Petrobrás e achava que o melhor nome para a presidência era o de Graça Foster, como é conhecida a atual diretora de Gás e Energia da estatal - "a diretoria que fura poços", na definição do ex-deputado Severino Cavalcanti (PP-PE). De longe, a mais importante.

Sem ter como apresentar argumentos contrários à decisão de Dilma Rousseff, Jaques Wagner disse que arrumaria uma secretaria do governo da Bahia para Gabrielli assim que ele deixasse o comando da Petrobrás.

A diferença financeira será gigantesca. À frente da estatal, o salário de Gabrielli era de mais de R$ 60 mil; na secretaria baiana, será de R$ 12 mil. Gabrielli já disse que prefere a da Indústria e Comércio, hoje tocada por James Correia, que foi aluno dele na Universidade Federal da Bahia.

Carta. Que Gabrielli seria substituído por Graça Foster já era uma notícia conhecida. Só não havia definição para a data. Falava-se até que poderia ser em março de 2014, prazo limite para a saída dos ocupantes de cargos no Executivo e nas estatais que desejam se candidatar. Dilma, no entanto, preferiu agir agora.

No domingo, Dilma aproveitou o intervalo da reunião setorial dos "grandes eventos", no Palácio da Alvorada, para determinar ao ministro Guido Mantega (Fazenda) que redigisse a carta que será apresentada no dia 9 ao Conselho de Administração da Petrobrás com a informação da saída de Gabrielli. Mantega é o presidente do Conselho.

Com o documento de Mantega na mão, Dilma ligou ontem de manhã para Jaques Wagner. Leu-o para o governador. Disse que, à exceção de Mantega, ele era a primeira pessoa a tomar conhecimento do teor da carta que será entregue ao Conselho de Administração da estatal. A presidente lembrou ao governador que não havia dado satisfação nem para o presidente do PT, Rui Falcão.

A decisão de Dilma Rousseff de não comunicar à direção do PT que havia optado por trocar o presidente da Petrobrás foi vista nos meios políticos como um recado de que não pretende ser refém de partidos em suas decisões. Mesmo sendo Graça Foster filiada ao PT, a nova presidente da maior estatal é tida como uma espécie de espelho de Dilma, mais preocupada com a gestão do que com resultados políticos. Por isso, a sua escolha tem sido atacada dentro do partido.

Informações de interlocutores muito próximos da presidente dão conta de que desde novembro ela vinha pensando em fazer a substituição./COLABOROU CHRISTIANE SAMARCO