Título: Cameron pressiona zona do euro
Autor: Kuntz, Rolf
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/01/2012, Economia, p. B9

Para o primeiro-ministro do Reino Unido, a Alemanha e o BCE deveriam fazer mais para ajudar na superação da crise na Europa

A Alemanha e o Banco Central Europeu (BCE) poderiam fazer mais para ajudar a zona do euro a sair da crise, disse ontem o primeiro-ministro do Reino Unido, David Cameron, aumentando a forte pressão já enfrentada pelos governos da união monetária. Esses governos deveriam, segundo ele, seguir as propostas da diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Christine Lagarde, e adotar um sistema de integração fiscal e de partilha de risco, "talvez com a criação de um eurobônus".

A diretora-gerente do FMI insistiu nesses pontos ao discursar na segunda-feira num seminário em Berlim. O lançamento de eurobônus foi apenas uma das soluções indicadas, mas, de toda forma, ela defendeu a criação de instrumentos financeiros sob responsabilidade de todos os países da área, para juntar forças e dividir encargos.

Lagarde insistiu também no reforço do fundo de resgate para aumento da segurança dos países mais endividados e do sistema financeiro. A longo prazo, uma integração maior das políticas fiscais continua sendo a recomendação.

No jargão corrente, esse fundo é também mencionado como "firewall", barreira contra fogo. A ideia é evitar um desastre capaz de se espalhar como incêndio por todo o sistema financeiro e por toda a zona do euro. O mesmo raciocínio recomenda um envolvimento maior do BCE no fornecimento de liquidez para estabilizar os bancos e o mercado das dívidas soberanas.

Imposto. David Cameron comprou essas ideias e ainda criticou a proposta de criação de um imposto sobre transações financeiras, sustentada pelos governos da França e da Alemanha, como "loucura". Esse imposto, segundo ele, cortaria empregos e prejudicaria os esforços de recuperação econômica. Os governos da zona do euro deveriam esquecer esse projeto e concentrar-se na solução dos problemas fiscais, disse o primeiro-ministro do Reino Unido. Países em melhor situação, como a Alemanha, deveriam adotar políticas para atenuar o sacrifício daqueles obrigados a enfrentar sem demora um forte ajuste nas contas públicas.

No dia anterior, a chanceler alemã, Angela Merkel, havia rejeitado, também numa sessão especial do fórum, a ideia de reforço financeiro do fundo de resgate. A Alemanha, segundo ela, não assumirá compromissos sem a certeza de poder cumpri-los.

A resposta a Cameron poderá ser dada na manhã de hoje, num painel sobre o futuro da zona do euro. Está prevista a participação dos ministros de Finanças da Alemanha e da França, Wolfgang Schaeuble e François Baroin, do ministro de Assuntos Econômicos e de Competitividade da Espanha, Luis de Guindos Jurado, e do vice-presidente da Comissão Europeia para Assuntos Econômicos e Monetários, Olli Rehn. Em outra sessão, o secretário do Tesouro americano, Timothy Geithner, falará sobre prioridades para a economia americana.

Funcionários americanos têm manifestado simpatia pelas propostas do FMI e sugerido maior empenho dos europeus para a solução da crise. Dificilmente, Geithner poderá evitar referências ao problema europeu em seu discurso de hoje, mas é arriscado afirmar se ele entrará abertamente no jogo das pressões.