Título: Petrobrás registra primeiro vazamento de petróleo na camada do pré-sal
Autor: Torres, Sergio
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/02/2012, Vida, p. A15

O primeiro vazamento expressivo de petróleo em área do pré-sal foi detectado ontem pela Petrobrás na Bacia de Santos, a cerca de 250 km de Ilhabela, litoral de São Paulo. A companhia avaliou, em "estimativa preliminar", ter vazado o equivalente a 160 barris (25,5 mil litros de óleo) no campo de Carioca Nordeste. Segundo nota da empresa, o vazamento foi contido e o petróleo não chegará à costa.

A Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) e o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) abriram investigação sobre o acidente, creditado pela Petrobrás ao "rompimento na coluna de produção" do navio-plataforma (FPSO) Dynamic Producer.

Nem o presidente da Petrobrás, José Sérgio Gabrielli, nem os diretores vieram a público falar sobre o acidente. A exploração das riquezas do pré-sal é a prioridade absoluta da companhia nos próximos 30 anos.

A principal empresa de petróleo do País se manifestou apenas por nota, que não cita os procedimentos para conter a mancha. Segundo especialistas, o combate a vazamento no pré-sal é muito mais complicado do que na camada pós-sal. Pelo menos duas razões dificultam as operações: as profundidades muito altas, por vezes superiores a 3 mil metros, e a distância da costa, de centenas de quilômetros.

Risco. O oceanógrafo David Zee, perito policial no vazamento de cerca de 400 mil litros de óleo na Bacia de Campos (RJ) em campo operado pela petroleira Chevron, há dois meses, sustenta que a profundidade divulgada pela Petrobrás, de 2.140 metros, atrapalha as ações.

"Em uma profundidade dessas não se pode fazer muita coisa. É um ambiente de difícil acessibilidade e inóspito. No pré-sal, a capacidade de controle de um vazamento fica muito dificultada", afirmou.

O economista Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura, prevê novos acidentes. "O Brasil e a sociedade estão vendo que petróleo vaza. A probabilidade de vazamentos aumenta à medida em que se fura mais poços, que é o que acontece no mundo todo. As empresas têm de começar a desenvolver procedimentos que tornem mais segura a atividade de furar poços", alerta.

Rompimento. De acordo com a Petrobrás, o vazamento foi detectado às 8h30 na coluna do navio, que realiza o Teste de Longa Duração (TLD) de Carioca Nordeste. "Após o rompimento, o sistema de segurança fechou automaticamente o poço. O poço encontra-se fechado e em condições seguras", diz a companhia na nota, acrescentando não "haver possibilidade de o petróleo chegar à costa".

A Petrobrás informa ter acionado "imediatamente o seu Plano de Emergência", mas não detalha o que está sendo feito. A ANP divulgou que hoje fará vistoria a bordo do navio-plataforma. "As ações para conter a mancha estão em andamento".

Professor da Universidade de Brasília (UNB), o geólogo Carlos Jorge Abreu diz que o vazamento tende a ser solucionado sem maiores dificuldades. "A tubulação flexível, que vai da boca do poço ao navio, deve ter rompido em algum lugar. Fechando o poço lá embaixo, o vazamento acaba. Depois, consertam a tubulação. Para mim, não parece nada grave."