Título: Uma reação da produção da indústria em dezembro
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/02/2012, Economia, p. B2

A produção industrial em 2011 cresceu 0,3%, apenas recuando em sua participação na formação do produto interno bruto (PIB). Um resultado muito estranho quando comparado com o crescimento do consumo doméstico, que até novembro aumentara 6,7%.

A diferença entre as duas taxas de crescimento explica em grande parte o drama da indústria: com uma taxa cambial sobrevalorizada, os consumidores preferiram produtos importados, muito mais baratos e com conteúdo tecnológico muito maior. E a indústria nacional, procurando reduzir os custos dos seus produtos, passou a adquirir componentes no exterior, em vez de procurar investir na inovação e modernização da sua produção. E há que acrescentar que a queda dos investimentos do governo contribui para afetar negativamente o resultado do setor manufatureiro.

Em suma, o que o setor industrial está mostrando é que, dos 26 ramos incluídos na pesquisa, 15 acusam aumento em relação ao ano anterior, enquanto 11 tiveram queda. Os bens de capital apresentaram uma alta de 3,3%, com destaque para os que são usados na indústria, dando ideia de que esta procurou melhorar seus equipamentos (especialmente no primeiro semestre), ao mesmo tempo que a construção civil e o setor de transporte atendiam a uma demanda constante até o final do ano . Os bens intermediários cresceram apenas 0,3%, e a queda maior foi dos têxteis: 20,1%

Os bens de consumo duráveis acusaram queda geral de 2,0%, sendo de 7,8% em veículos automotores, e elevação de 3,2% em mobiliário, consequência do bom desempenho da construção civil. Os bens semiduráveis e não duráveis acusam queda de 0,2%, vitimados pela importação.

Os resultados de dezembro, todos positivos, deram a esperança de uma reação da indústria como um todo, que cresceu 0,9% no mês, ou 7% nos produtos de consumo duráveis e 3,7% nos bens de capital. A indústria parece que volta a investir para atender a uma demanda que, na visão dos industriais, vai aumentar na classe C, dada a elevação de 14% do salário mínimo. No final do ano passado houve uma redução de estoques, que se aproximam do normal. Seria prudente não exagerar no otimismo, levando em conta que o aumento dos rendimentos da classe C vai defrontar-se com o pagamento das despesas das festas natalinas e a elevação do endividamento com a aquisição de residência.

À indústria competiria não só melhorar seus equipamentos para aumentar a produtividade e baixar preços, mas também investir nas pesquisas para poder inovar.