Título: PF indicia 2 funcionários de escola por vazamento
Autor: Mandelli, Mariana
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/01/2012, Vida, p. A16

Eles são acusados de copiar 14 questões de pré-teste e repassá-las a alunos do Colégio Christus dias antes do Enem

A Polícia Federal indiciou dois funcionários do Colégio Christus, de Fortaleza, pelo vazamento de questões do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de 2011. Segundo a PF, os itens foram copiados de pré-teste aplicado na escola em 2010 e repassados a alunos da instituição. Ambos foram indiciados por estelionato, crime que prevê de 1 a 5 anos de prisão, além de multa.

Os responsabilizados são o professor Jahilton Motta, que entregou a alunos o caderno com questões que cairiam no Enem, e um funcionário não identificado. O funcionário seria o único, diz a PF, que esteve nas salas em que foram aplicados os pré-testes. A conclusão da PF foi adiantada na tarde de ontem na internet pelo Estadão.edu.

Segundo concluiu a PF, a Cesgranrio, responsável pela realização do pré-teste, solicitou ao Colégio Christus que colaborasse na sua aplicação, terceirizando a fiscalização dessa prova (mais informações nesta página). Por isso, o funcionário da escola teve acesso indevido ao material.

Cerca de dez dias antes do Enem 2011, realizado no dias 22 e 23 de outubro, Motta distribuiu um caderno de exercícios aos vestibulandos - estudantes do 3.º ano do ensino médio e do curso pré-vestibular. Ele leciona física no colégio e é um dos coordenadores do Christus.

O caderno de exercícios tinha as questões iguais às que caíram no Enem. Segundo alunos, Motta teria dito para os estudantes prestarem atenção no material de apoio, que seria "o mais importante" sobre o Enem. E não deveriam comentar com colegas de outras escolas da cidade.

Reprodução. À PF, o professor não revelou quem teria entregado a ele o caderno com as questões do pré-teste. Teria apenas encontrado o caderno em sua mesa e decidido repassar aos alunos.

A polícia descarta a hipótese de que a reprodução tenha sido premeditada e sim por conta de uma "oportunidade". A PF não sabe como as perguntas foram copiadas, mas ressalta que a escola repassou o material omitindo o logotipo da instituição.

Por conta do acesso antecipado, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep) anulou 14 questões do Enem para 1.139 alunos do 3.º ano e do cursinho pré-vestibular do Christus. Os itens entregues aos estudantes da instituição eram idênticos ou parecidos aos que caíram no Enem. O cancelamento das questões não prejudicou, segundo o Inep, as notas desses estudantes.

O colégio não foi responsabilizado. Em nota, declarou que "confia na honestidade e na lisura de seus funcionários e aguardará, considerando que as notícias expressam apenas a opinião da autoridade investigadora, uma posição equilibrada e isenta do Ministério Público Federal".

A Cesgranrio, que integra o consórcio responsável pelo Enem com o Cespe/Unb, também não foi indiciada. Por causa da Teoria da Resposta ao Item (TRI), método de correção do Enem, as questões têm de ser pré-testadas para calibrar a dificuldade. O uso de itens na prova de 2011 que foram calibrados um ano antes expõe uma deficiência do Inep: a falta de um banco de questões em quantidade segura.

O inquérito foi instaurado no dia 26 de outubro e finalizado na sexta-feira passada. O relatório já teria sido entregue ao Ministério Público Federal. A procuradoria deve, ou não, recomendar à Justiça o indiciamento.

O MEC afirma que ainda não teve acesso ao inquérito. Mas, por meio da assessoria de imprensa, disse querer que "todos os indiciados e os que atentaram contra o Enem sejam exemplarmente punidos".