Título: Copom confirma corte da taxa de juro para 10,5%
Autor: Cucolo, Eduardo
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/01/2012, Economia, p. B5

Decisão foi tomada por unanimidade e Banco Central indica que pode fazer novos cortes nos próximos meses, para estimular a economia

O Banco Central (BC) anunciou ontem o quarto corte consecutivo dos juros e indicou que deve promover novas reduções nos próximos meses para estimular a continuidade da recuperação da economia brasileira.

A instituição confirmou as apostas do mercado financeiro e reduziu a taxa básica de juros (Selic) de 11% para 10,5% ao ano, por unanimidade. Agora, a expectativa da maioria dos economistas é de pelo menos mais uma redução, para 10% ao ano, na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), marcada para 6 e 7 de março.

Essa previsão foi reforçada não apenas pelo placar unânime, mas também pelo comunicado divulgado logo após a decisão. O BC utilizou as mesmas palavras com as quais justificou os dois últimos cortes, que também foram de 0,5 ponto.

Afirmou novamente que "um ajuste moderado no nível da taxa básica é consistente com o cenário de convergência da inflação para a meta em 2012". Manteve também o entendimento de que o ambiente global continua "mais restritivo", numa referência aos efeitos da crise externa.

O que divide agora os analistas é a possibilidade de um último corte dos juros em abril, que levaria a taxa básica a 9,5% ao ano. Embora a maioria aposte nessa hipótese, alguns economistas dizem que há cada vez mais indicações de que o BC pode abreviar o ciclo de queda da Selic iniciado em agosto passado, quando a instituição surpreendeu o mercado e se antecipou à piora no cenário externo.

Cenário. Desde a última reunião do Copom, no fim de novembro, houve melhora no mercado financeiro global e recuperação modesta da atividade econômica no Brasil. Por outro lado, a inflação acumulada em 12 meses continuou em queda.

Também se espera o anúncio em breve de um corte de até R$ 70 bilhões no Orçamento federal, valor superior ao anunciado em 2011, para que o governo possa cumprir a meta de superávit neste ano. O aumento na economia feita pelo setor público é um dos fatores que entram na conta do BC na hora de decidir se reduz ou não a taxa básica.

O estrategista-chefe do Banco WestLB, Luciano Rostagno, avalia que ainda não há dados que justifiquem encurtar o ciclo de redução da taxa básica de juros. "O ambiente externo, apesar da melhora marginal que a gente viu nesse começo de ano, ainda continua bastante incerto", afirmou. "Isso, somado à trajetória cadente da inflação, deve dar tranquilidade para o BC continuar cortando os juros."

Rostagno diz ainda que todo o governo tem se mostrado bastante alinhado com o BC e feito esforços para garantir um ajuste fiscal que abra espaço para que a política monetária seja o canal de estímulo para a economia. "O BC pode executar mais um corte em março e deixar a porta aberta para cortar ou não os juros em abril, dependendo do cenário externo e da inflação por aqui."

Já o economista-chefe da Votorantim Corretora, Roberto Padovani, avalia que o ciclo de queda dos juros se aproxima do fim. Para ele, mesmo que o governo cumpra a meta fiscal neste ano, as despesas públicas devem continuar em alta, influenciando tanto a inflação quanto a política monetária atual.

Padovani diz ainda que o mercado de juros já indica a possibilidade de uma política monetária mais cautelosa, por causa da redução dos riscos externos e dos próprios sinais emitidos pelo BC em seus últimos comunicados. "Um ciclo mais longo poderia elevar o risco de o BC ter de elevar os juros mais à frente."