Título: Fórum de Davos faz Chamado à Ação a lideranças globais
Autor: Dantas, Fernando
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/01/2012, Economia, p. B3

Documento assinado por dirigentes de organizações multilaterais pede que sejam mantidos os esforços para garantir o crescimento

O Banco Central Europeu (BCE) deve prosseguir nas recentes ações garantindo a liquidez do sistema bancário, o fundo de estabilidade europeu deve ser reforçado, para que os governos da região possam se financiar a taxas menores, e é preciso que o processo de consolidação fiscal na zona do euro estimule, e não prejudique, o crescimento.

Essas são as algumas das principais recomendações de um "Chamado à Ação" dirigido a governos e autoridades econômicas globais, que está sendo divulgado por um grupo de líderes de organizações multilaterais e regionais, ligado ao Fórum Econômico Mundial.

Entre os signatários do documento estão Christine Lagarde, diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI); Robert Zoellick, presidente do Banco Mundial; Angel Gurría, secretário-geral da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico; e Luis Moreno, presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento.

O documento vem a público pouco antes do início do Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça, que começa na próxima quarta-feira. Nas últimas décadas, o encontro tem sido uma das principais arenas de debate sobre a economia global, com a presença de altas autoridades econômicas, economistas de renome mundial, alguns dos principais empresários do mundo e diversos chefes de Estado.

O Chamado à Ação busca conciliar linhas divergentes sobre como enfrentar a nova fase da crise global, mas nota-se que a ênfase pende mais para a visão de que é fundamental estimular o crescimento do que para a postura ultraconservadora da Alemanha e de outros países do norte europeu, que privilegia a austeridade fiscal.

Apesar de o documento frisar que a visão dos signatários não corresponde necessariamente à de suas instituições, a presença dos líderes do FMI e do Banco Mundial indica um firme apoio multilateral à recente mudança de postura do BCE. Com a substituição do francês Jean-Claude Trichet pelo italiano Mario Draghi na presidência da instituição, o BCE ampliou fortemente o suporte aos combalidos bancos da zona do euro, com empréstimos maciços.

Protecionismo. O Chamado à Ação coloca como principais preocupações atuais a desaceleração global e o aumento da incerteza; o alto desemprego, especialmente de jovens; e o recurso, por muitos países, a políticas protecionistas e voltadas para dentro. Outro tema enfatizado é o aumento da desigualdade.

O documento sugere que o Plano de Ação, voltado ao crescimento e ao emprego, acordado pelo G-20 em novembro seja ampliado na cúpula das 20 principais economias no México, em junho.

Com foco em resolver a crise de dívida soberana (referência aos países da zona do euro) e reestimular o crescimento global, o Chamado à Ação sugere que o plano de ação ampliado do G-20 restaure a confiança nas instituições financeiras, tanto implementando reformas regulatórias globalmente pactuadas quanto "recapitalizando rapidamente os bancos, quando necessário". Além disso, o documento ressalta a necessidade de manter o acesso ao capital por pequenas e médias empresas e de não se deixar que a desalavancagem bancária trave as linhas comerciais e de financiamento de longo prazo.

O Chamado à Ação, apesar da ênfase no crescimento, também defende os pacotes fiscais para estabilizar as finanças e o endividamento de diversos países, além de recomendar parcerias público-privadas e reformas no mercado de trabalho. Para os signatários do documento, é preciso reforçar a governança dos países, para garantir a disciplina fiscal de longo prazo e evitar que os pacotes de ajuda de curto prazo provoquem "risco moral" - isto é, estimulem mais irresponsabilidade.

Outros itens apontados como oportunidades de crescimento para a economia global são a transformação em curso nos países emergentes, a necessidade de investimentos em infraestrutura no mundo todo e a "economia verde". O documento frisa a importância da Rio+20, a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável a ser realizada no Rio de Janeiro em junho deste ano.

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