Título: Projeto reduziu mortalidade entre mulheres
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/12/2011, Vida, p. A15

Desde 2004, o Uruguai tem um programa de assistência médica que fornece orientação às mulheres que planejam abortar.

Batizado de "Normas e Guias Clínicas para a Atenção Pré e Pós-Aborto", o projeto permitiu que milhares de mulheres driblassem a lei e realizassem o aborto - até que o projeto de lei que despenaliza a prática aprovado no Senado seja sancionado pelo presidente uruguaio, o aborto continua sendo crime no país.

A ação do programa, no entanto, é restrita, já que é aplicado apenas no Pereyra Rossell, principal hospital público de Montevidéu, responsável por 20% dos partos no país.

O programa determina que os médicos devem explicar às mulheres quais são as técnicas de aborto existentes e os riscos de cada uma. Oficialmente, serve para prevenir abortos inseguros, feitos na ilegalidade, por pessoas não habilitadas.

Na prática, é uma forma de driblar a proibição do aborto, já que os médicos as assessoram sobre as formas "de fazer aquilo que não deveria ser feito". O programa também dá atenção às mulheres no pós-aborto.

Em 2004, quando o programa foi criado, o aborto era responsável por 48% das mortes ocorridas no hospital. Desde então, nenhuma morte foi registrada por esse motivo.

Apenas 20% das mulheres que procuraram o hospital e foram orientadas pelos médicos optaram por não fazer o aborto - pela gravidez adiantada ou após verem exames com a imagem do bebê. Todas as que decidiram pela interrupção optaram por usar o remédio misoprostol.

Antes do programa, mulheres uruguaias que queriam abortar podiam recorrer à Justiça e o pedido era analisado por um juiz. Em casos onde havia problemas congênitos ou risco de vida, o aborto poderia ser autorizado.