Título: É preciso definir responsabilidade para que se possa cobrar
Autor: Rodrigues, Eduardo
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/01/2012, Economia, p. B8

Analista critica ausência de projetos para a área de telecomunicações e teme falhas que prejudiquem a imagem do País

Se os atrasos do Brasil para a Copa do Mundo de 2014 nas obras de estádios, mobilidade urbana e aeroportos já estão bem mapeados, pouco se tem falado sobre os preparativos do País na área de telecomunicações. Por isso, o professor de engenharia da Universidade de Brasília (UnB), Antonio Ribeiro dos Santos, alerta para a falta de definição sobre os investimentos necessários no setor para atender o público do evento.

Segundo ele, ainda não estão claras as responsabilidades do governo e das empresas no mundial. A seguir, os principais trechos da entrevista.

Como o sr. avalia a preparação do País para o Mundial na área de telecomunicações?

Para quem não está muito engajado no assunto, pode até haver a impressão de que está tudo pronto e resolvido no setor. Mas não está e temos alguns caminhos muito longos para seguir, considerando principalmente o tempo escasso para o evento. No meio do próximo ano já teremos a Copa das Confederações.

Quais são as maiores necessidades que um evento como esse demanda no setor?

É preciso ter uma rede poderosa concentrada para a transmissão dos jogos, mas também há a questão da comunicação pessoal. Os estrangeiros chegarão com todas as plataformas e tecnologias e as operadoras do País precisarão estar preparadas. Sabemos que hoje existe até certa saturação das redes nas maiores metrópoles do País.

Qual seria o principal entrave para os investimentos necessários?

O problema é que o governo está longe de assumir responsabilidades ou dizer quais as companhias serão as responsáveis pelo atendimento no período da Copa. É hora de colocar o quebra-cabeça na mesa e botar as peças nos seus lugares. É preciso definir as responsabilidades para que se possa cobrar.

O governo alega que a Telebrás atenderá as demandas do evento, enquanto o público seria atendido pelas operadoras.

Mas falta uma definição mais clara. Se forem todas as companhias que vão atuar, como será feito? Todas vão investir pesado em todos os lugares? Será que está todo mundo disposto? Na dúvida, não se pode correr o risco de que alguma sede não seja atendida. É tempo de correr atrás de um planejamento mais integrado e alguém tem de liderar isso, seja o governo, a Telebrás ou a própria associação das empresas.

A Telebrás tem fôlego financeiro suficiente para montar a estrutura exigida pela Fifa?

O orçamento de R$ 200 milhões da Telebrás até 2015 não é uma cifra considerável, principalmente em um contexto no qual os investimentos em telecomunicações no País são da ordem de R$ 20 bilhões a R$ 25 bilhões por ano. É natural supor que a estatal terá de pedir mais recursos ao Tesouro Nacional para arcar com as responsabilidades necessárias para a Copa do Mundo.

E há tempo para que essa infraestrutura seja concluída?

Em tese, um estádio pode ficar pronto até uma semana antes do primeiro jogo, mas as telecomunicações não podem ficar prontas em cima da hora. Trata-se de um item da infraestrutura que vai dar suporte para ferramentas de controle, supervisão, acompanhamento e da própria imprensa, que são atividades que começam antes da Copa e dependem de preparação e treinamento. Estamos falando de um grande sistema integrado que vai envolver milhares de pessoas.

Caso todos esses problemas citados pelo sr. e por outros especialistas não sejam contornados, a Copa do Mundo no Brasil poderá ficar comprometida?

É claro que vai haver Copa, mas obviamente perde-se um pouco daquele outro lado, de promoção do Brasil. Seria lamentável que o quinto maior País do mundo em telecomunicações - quantitativamente - deixasse uma má imagem por causa disso. Imagina se o sinal de transmissão cai durante um jogo? Já pensou se há um blecaute nos celulares dentro ou no entorno dos estádios? Não pode haver falhas, é nisso que um mundial de futebol se diferencia de outros eventos. / E.R.

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