Título: Bancos públicos turbinam o crédito
Autor: Cucolo, Eduardo ; Nakagawa, Fernando
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/01/2012, Economia, p. B1

Estatais ampliaram empréstimos em 7,7% no último trimestre de 2011, o dobro dos privados; R$ 2 trilhões foram emprestados em 2011

BRASÍLIA - Discretamente, bancos públicos turbinaram a concessão de empréstimos no fim do ano passado e contribuíram para que o estoque de crédito crescesse acima do estimado pelo Banco Central e ultrapassasse a marca histórica de R$ 2 trilhões em 2011.

Enquanto as instituições privadas ampliaram a carteira de crédito em 3,2% no último trimestre, as públicas registraram expansão de 7,7%. Com isso, os bancos estatais terminaram o ano com novo aumento de participação no mercado de crédito, que chegou a 43,5%.

No ano passado, o volume de crédito de todo o mercado cresceu 19%, acima da previsão de 17,5% feita pelo BC há cerca de um mês. Para 2012, a previsão oficial é de uma expansão de 15%.

Parte desse crescimento mais forte que o previsto pode ser atribuído ao desempenho das operações na reta final do ano, quando deslanchou o crédito dos bancos estatais para pessoas físicas, tanto para consumo como para habitação. Nessas operações, o volume dos públicos avançou 10,5% no último trimestre do ano, mais de quatro vezes maior que a dos concorrentes privados.

Esse comportamento dos bancos públicos segue a orientação do governo que, desde agosto, adotou uma série de medidas para incentivar os empréstimos como forma de manter a economia aquecida, como corte de juro e reversão de restrições aos financiamentos de veículos e crédito pessoal.

Apesar de os números mostrarem diferença no comportamento das instituições estatais em relação ao restante do mercado, o chefe do Departamento Econômico do BC, Túlio Maciel, disse que ainda não é possível observar um comportamento distinto dos bancos públicos, como em 2008 e 2009. Maciel destacou, no entanto, o crescimento de 6,3% no crédito do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) somente em dezembro.

Cautela

Enquanto bancos públicos abrem a torneira do crédito, o BC diz que os privados ainda estão cautelosos em relação à inadimplência. Em dezembro, o calote nos empréstimos se manteve em 7,3%.

Segundo Maciel, a estratégia dos privados atrasa o repasse da melhora das condições do mercado ao consumidor. "Em parte, essa cautela é explicada pelo aumento da inadimplência ao longo do segundo semestre", disse Maciel, ao comentar que bancos têm tido "maior seletividade" na concessão do crédito.

Mesmo com essa seletividade, os juros caíram nos últimos dois meses, na esteira da redução das taxas anunciadas pelo BC. Ainda assim, terminaram 2011 acima do verificado no ano anterior: 43,8% ao ano para pessoa física e 28,2% para empresas.

Dados do início de janeiro mostram queda sazonal nas concessões, puxada pelas empresas. Foi registrada, ainda, pequena alta nos juros para o consumo.