Título: Entidades não se entendem sobre bens
Autor: Boghossian, Bruno
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/01/2012, Metrópole, p. C3

Informações sobre destino de objetos achados nos escombros são desencontradas

O Corpo de Bombeiros e as Polícias Civil e Militar não se entendem em relação ao destino dos bens encontrados nos escombros dos prédios que desabaram no Rio. Ontem, sete caixas eletrônicos do Itaú e quatro cofres de empresas de contabilidade foram achados, mas não há inventário sobre os objetos de valor encobertos sob toneladas de escombros.

Informações desencontradas causam dúvidas. E autoridades fornecem diferentes caminhos para os interessados em recuperar o patrimônio.

Na madrugada de ontem, um dentista que tinha consultório no Edifício Colombo foi preso por calúnia e difamação ao acusar um bombeiro de saquear pertences.

De acordo com o Corpo de Bombeiros, objetos de valor são levados ao posto de comando móvel da corporação, onde são registrados e entregues à Polícia Militar. A PM entregaria o material à Polícia Civil.

"Esse é um protocolo de 150 anos. É muito leviano imaginar que neste cenário de sofrimento e tristeza alguém seja capaz de pegar essa ou aquela peça", afirmou o comandante da Defesa Civil e coronel do Corpo de Bombeiros, Sérgio Simões.

No entanto, a Polícia Militar informou em nota ontem que "todo o material e os pertences das vítimas encontrados nos desabamentos estão sob a responsabilidade da Prefeitura e devem ser encaminhados para um depósito municipal". Disse ainda que atua apenas no cerco ao local da tragédia.

A Polícia Civil também negou que fique responsável por pertences encontrados nos escombros. Segundo sua Assessoria de Comunicação, peritos apreendem apenas material de interesse para a investigação sobre as causas do desabamento, como vigas e pedaços de concreto corroídos. A polícia informou que um funcionário do Banco Itaú acompanha as buscas.O material retirado do local não passa por triagem, de acordo com o secretário municipal de Conservação, Carlos Roberto Osório.

O entulho removido pelas máquinas é colocado em caminhões, que o deposita em um canteiro de obras da prefeitura na zona portuária. De lá, tudo segue em grandes carretas para um terreno próximo ao lixão de Gramacho, em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense.

"O material vai ficar separado porque ainda pode ser necessário realizar uma perícia nesses escombros", explicou Osório. "Já requisitamos e temos o apoio policial necessário para proteger o local onde está o material."

Apenas os cofres, caixas eletrônicos do banco que funcionava em um dos prédios e objetos que eram facilmente identificados pelas equipes de resgate são separados no local.

Autuado por calúnia e difamação após ter acusado um sargento do Corpo de Bombeiros de se apropriar de objetos encontrados nos escombros dos prédios, o dentista Antônio Molinaro continuava ontem sem saber o que fazer para recuperar o que restou de seu consultório, que ficava no quarto andar do Edifício Colombo.

"Dizem que tudo está sendo levado para o porto, mas tenho certeza de que antes está havendo uma garimpagem e objetos estão sumindo. Fui preso por isso. Como é possível que ninguém saiba onde as coisas estão sendo catalogadas? Por que já não podemos ir a um local, acompanhados de um policial, para termos acesso aos objetos? Fiquei revoltado porque eles precisam entender que têm que nos dar satisfação", disse Molinaro, que calcula ter tido um prejuízo material de R$ 300 mil.

CDs. Na madrugada de ontem, o dentista foi levado à delegacia após abordar um dos bombeiros e cobrar explicações para uma caixa de CDs que estava no banco de um carro da Defesa Civil. "O que tem aí dentro? Vê se isso aí é dele", protestou Molinaro, que abriu a porta do veículo em busca de outros objetos. O dentista disse que na segunda-feira começará a pensar em sua defesa para o processo de calúnia e difamação. "Não estou contra o Corpo de Bombeiros", afirmou