Título: Como resolver o problema do arquipélago? Vendendo-o
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/02/2012, Internacional, p. A12

A ideia da venda de um território soberano parece incrível, mas se tratava de algo comum pouco tempo atrás e isso resolveria a disputa

No trigésimo aniversário da Guerra das Malvinas (Falklands, para os britânicos), crescem mais uma vez as tensões entre os donos, a Grã-Bretanha, e o vizinho continental mais próximo, a Argentina. Em 2007, a Argentina reafirmou sua pretensão às Malvinas, que são britânicas desde 1833. Em 2010, a Grã-Bretanha fez uma nova reivindicação de domínio do território ao redor das ilhas, em busca de alguns direitos minerais - parece que há um bocado de petróleo nas imediações.

A Argentina vem respondendo à história recente e às pretensões recentes da Grã-Bretanha com a restrição do acesso ao arquipélago. Christina Kirchner, presidente da Argentina, ameaçou proibir que aviões com destino às Malvinas cruzem o espaço aéreo nacional. Ela conseguiu persuadir seus vizinhos a proibir a entrada em seus portos de embarcações com a bandeira das Malvinas.

Ainda há certa dose de teimosia envolvendo as Malvinas. O premiê David Cameron disse a pior coisa que se poderia dizer sobre um político contemporâneo, e acusou a presidente Cristina de "colonialismo". Cristina disse que Cameron estava "beirando a estupidez".

Nesta semana, o HMS Dauntless zarpou. O príncipe William, como parte de seu serviço militar, foi enviado usando o que Buenos Aires chamou de "o uniforme do conquistador". Kirchner diz que só deseja conversar, mas o governo britânico parece certo de que não há nada sobre o que conversar.

Houve guerras mais sangrentas do que a Guerra das Malvinas, de 1982. No total, 649 militares argentinos, 255 militares britânicos e 3 ilhéus das Malvinas morreram durante o conflito. Mas ninguém quer realmente retomar a mesma guerra. Jorge Luis Borges não estava muito correto quando descreveu a guerra de 1982 como "dois carecas lutando por um pente": há ali recursos naturais nos quais ambos os países querem legitimamente pôr as mãos.

Tenho uma sugestão drástica a fazer. Vamos propor a venda das Ilhas Malvinas à Argentina.

A ideia da venda de um território soberano nos parece incrível, mas se tratava de algo comum a até pouco tempo atrás. Os Estados Unidos foram compradores habituais de territórios no decorrer dos anos. Em 1803, Washington comprou a Louisiana da França por US$ 15 milhões; em 1867 foi a vez do Alasca, comprado da Rússia por US$ 7,2 milhões.

Muito recentemente, a ideia de um país em grandes dificuldades financeiras recorrer à venda de parte do seu território soberano para economias mais responsáveis voltou a circular. A Grécia, com seus milhares de ilhas e sua economia em estado de choque, recebeu um número de ofertas mais ou menos sérias. Josef Schlarmann, do Partido Democrata-cristão alemão, perguntou-se em voz alta por que os gregos não optavam por vender algumas ilhas para captar dinheiro. O prefeito de Vilna, atualmente uma economia em rápido crescimento, disse que a Lituânia se dispunha a pagar 7 milhões por uma ilha no Mar Egeu. Tais ofertas não foram bem recebidas em Atenas.

Até territórios enormes e ricos em minerais podem se mostrar pouco lucrativos. The Economist citou um professor de Iowa, David Barker, cujos cálculos indicam que o custo do desenvolvimento do Alasca foi tão caro que, aparentemente, o governo não foi capaz de recuperar a incrível soma de US$ 7,2 milhões.

Seja como for, talvez valha a pena testar a reação dos argentinos a uma proposta deste tipo. Duvido muito que tenhamos estômago para suportar outra Guerra das Malvinas. Eles se mostram claramente ansiosos para obter algum território rico em recursos naturais, PIB alto e tanto valor sentimental quanto se pode nutrir por algo localizado a 500 km do seu litoral. Talvez se trate de um território que, no futuro, se tornará valioso, mas a verdade é que podemos ganhar dinheiro com ele agora. Talvez possamos sugerir à presidente Cristina que meio trilhão de libras seria uma soma bastante razoável a ser oferecida em troca deste arquipélago de 778 ilhas, em sua maioria bastante encantadoras. Eles não teriam de pagar tudo de uma só vez.

Se eles de fato quiserem estas ilhas remotas, podemos aproveitar para deixar de lado qualquer traço da vergonha que um dia tivemos, e vendê-las aos argentinos. / TRADUÇÃO DE CELSO PACIORNIK E AUGUSTO CALIL