Título: Chanceler russo vai à Síria para tentar frear massacre
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Fonte: O Estado de São Paulo, 08/02/2012, Internacional, p. A13

Encontro entre chanceler de Moscou e presidente Assad ocorre enquanto europeus e árabes retiram embaixadores de Damasco

Em visita a Damasco, o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, disse ontem ter recebido do presidente sírio, Bashar Assad, o "compromisso de acabar com toda a violência, independentemente de suas origens". Enquanto Lavrov se reunia com Assad, potências ocidentais e países árabes ampliavam as medidas para isolar Damasco - Itália, França, Espanha, Holanda e Bélgica retiraram seus embaixadores da Síria.

A promessa de Assad ao chanceler russo foi feita enquanto suas forças voltavam a atacar zonas residenciais nas cidades de Hama e Homs. Ao menos 15 pessoas teriam morrido ontem, segundo a oposição local.

Segundo Lavrov, o ditador sírio prometeu implementar o primeiro plano de paz proposto pela Liga Árabe, o qual prevê a retirada das forças sírias da rua, a libertação de presos políticos e o diálogo com a oposição. Dissidentes imediatamente rejeitaram a oferta. Pelo menos outras duas vezes Assad dissera que seguiria os passos do acordo, mas depois permaneceu imóvel.

Rússia e China provocaram a ira de americanos, europeus e árabes ao vetar, no sábado, uma resolução condenando o regime sírio. O texto votado no Conselho de Segurança da ONU exigia de Assad o fim da violência e o início de uma transição política.

Segundo a agência síria de notícias, Assad pessoalmente agradeceu ontem ao chanceler russo pelo veto nas Nações Unidas: "(A Rússia) teve papel-chave na salvação de nossa pátria".

Lavrov tentou demonstrar que a Rússia - principal aliado e fornecedor de armas a Damasco - pode moderar o regime Assad e convencê-lo a parar com a violência e conduzir uma abertura controlada. Segundo o chanceler, a Rússia estava demonstrando "sua disposição para facilitar um rápido fim da crise (síria)".

Uma multidão pró-Assad, levando bandeiras sírias, russas e do grupo radical xiita libanês Hezbollah, recebeu o emissário do Kremlin nas ruas de Damasco. "Obrigado, Rússia e China", dizia um cartaz. Lavrov estava acompanhado do chefe do serviço de inteligência externa de Moscou, Mikhail Fradkov.

Segundo a agência russa Interfax, o chanceler teria falado a Assad que "as reformas necessárias devem ser implementadas para responder às reivindicações legítimas das pessoas que lutam por uma vida melhor". "É evidente que esforços para acabar com a violência devem ser acompanhados do início de um diálogo entre as forças políticas", completou Lavrov.

Assad disse a seu interlocutor russo que a Síria está "determinada" a conduzir um diálogo nacional, segundo a imprensa de Damasco. "Estamos prontos para cooperar com qualquer iniciativa que amplie a estabilidade na Síria", teria afirmado o ditador.

A visita do emissário russo não impediu que cinco países europeus decidissem retirar seu embaixador de Damasco. A Grã-Bretanha havia feito o mesmo na segunda-feira, assim como os EUA, que repatriaram todo o pessoal diplomático. Todas as cinco monarquias da Península Arábia também convocaram seus embaixadores na Síria.

O premiê turco, Recep Tayyip Erdogan, ex-aliado de Assad, atacou ontem Pequim e Moscou pelo uso do veto na ONU. / AP