Título: Mercado desconfia do fôlego financeiro de vencedores de leilões de aeroportos
Autor: Pereira, Renee
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/02/2012, Economia, p. B1

Depois dos elevados ágios do leilão de concessão dos Aeroportos de Guarulhos, Campinas e Brasília, realizado na segunda-feira, os investidores passaram o dia digerindo os números da disputa e não gostaram do que viram. A agência de classificação de risco Fitch, uma das maiores do mercado, também demonstrou preocupação e colocou o rating de Invepar e Triunfo (TPI) em observação negativa.

A Invepar é a empresa de infraestrutura dos fundos de pensão Previ (Banco do Brasil), Funcef (Caixa) e Petros (Petrobrás) em parceria com a construtora OAS. A empresa é lider, com 90% de participação, do consórcio que venceu o Aeroporto de Guarulhos, por R$ 16,2 bilhões. O grupo terá de pagar R$ 800 milhões por ano a título de outorga mais 10% da receita bruta do terminal. Para completar, a sócio sul-africana ACSA também estaria altamente endividada por causa de investimentos feitos para receber a Copa de 2010.

Na avaliação da Fitch, é provável que os acionistas da Invepar tenham de fazer um aporte de capital para suportar os compromissos. "As demonstrações financeiras da empresa já apresentam volume elevado de endividamento, e as atuais medidas de crédito da companhia são modestas para o seu rating." A agência completa ainda que eventuais emissões de dívida para suportar a aquisição poderão provocar fortes pressões sobre o rating, "levando ao rebaixamento em diversos graus".

Na TPI, que venceu o Aeroporto de Viracopos com ágio de 159%, a situação foi um pouco mais complicada ontem. No final da tarde, os investidores aceleraram as vendas de ações, que despencaram 10%. A corretora Planner, a mesma que representou o grupo na disputa, soltou boletim com ressalvas em relação à empresa, que terá de pagar outorga anual de R$ 127 milhões e 5% de receita bruta ao Fundo Nacional de Aviação Civil.

No documento, o analista Rafael Andreata diz que ficou receoso em relação ao valor pago por Viracopos e sua capacidade de geração de valor. Ele avalia que a taxa de retorno ficará abaixo dos 6,5% e que as premissas de crescimento de tráfego são elevadas. A Fitch também demonstrou preocupação com o nível de endividamento da empresa, que representa 3,2 vezes a geração de caixa.

Para a diretora de Relações com Investidores da TPI, Ana Cristina Carvalho, os analistas não entenderam bem o edital. Segundo ela, a Triunfo não vai arcar com os compromissos sozinha. Com a Infraero, a participação da empresa no aeroporto será de 22,95%. Ela afirmou que as dívidas da empresa são elevadas por causa de projetos que só vão gerar receita em alguns anos.

A Triunfo venceu, em 2008, leilão de concessão da Rodovia Ayrton Senna, mas não conseguiu entregar as garantias exigidas. O consórcio perdeu a concessão para o segundo colocado. /COLABOROU MARINA GAZZONI