Título: Governo grego tenta hoje fechar acordo
Autor: Chade, Jamil
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/02/2012, Economia, p. B7

País precisa apresentar novo plano de austeridade para receber 130 bilhões

Paralisada e diante da violência de manifestantes que saíram às ruas para protestar contra as medidas de austeridade, a Grécia corria para não perder o prazo dado pela União Europeia (UE) para fechar um acordo de resgate. Na noite de ontem, o governo de Lucas Papademos garantia que um rascunho do acordo tinha sido finalizado.

Hoje, os líderes do governo devem se reunir para aparar as arestas e bater o martelo em cima de um documento final. Se isso acontecer, o projeto então será enviado aos ministros de Finanças da UE, que, amanhã, poderão dar o sinal verde para um novo pacote de ajuda para a Grécia. O governo garantiu que todos os partidos estão de acordo com a reforma. Mas não é a primeira vez que Atenas faz esse tipo de promessa.

Durante o dia, a notícia de que o governo já estaria redigindo o acordo fez as bolsas subirem. Mas o mercado se frustrou com a notícia de que a reunião, que deveria ter ocorrido ontem, seria adiada. O argumento oficial para mais um adiamento foi de que os líderes das principais forças políticas gregas não haviam recebido ainda o projeto e queriam estudar as implicações de cada uma das leis antes de voltarem a se reunir.

A UE e o Fundo Monetário Internacional (FMI) deixaram claro que não vão autorizar um novo pacote de 130 bilhões para salvar a Grécia se o país não atender às exigências de cortes.

O impasse se concentrava na insistência da UE em reduzir os salários em pelo menos 20%. No fim do dia, a resistência à proposta foi aliviada, depois que o 13.º e 14.º salários foram mantidos. Mesmo assim, os diferentes líderes políticos gregos têm insistido que não estão dispostos a aceitar um projeto que apenas aprofundaria a recessão, numa manobra que também é vista como um jogo político para mostrar força antes das eleições de abril e não perder a confiança dos eleitores.

Sem dramas. Ontem, pela primeira vez, uma comissária europeia admitiu que a saída da Grécia da zona do euro não seria um desastre, no que foi interpretado como um sinal claro de que Bruxelas já busca uma estratégia para que a volta do dracma na Grécia não signifique o fim da moeda comum. Para o Citibank, nunca as possibilidades de Atenas abandonar o euro foram tão altas quanto agora, com mais de 50%.

Mas, cada vez que os prazos europeus são desrespeitados, cresce a percepção de que a Grécia não terá outra solução que não seja o calote. O impasse já abriu caminho para que políticos europeus comecem a minimizar a saída do país da zona do euro, já preparando um eventual fracasso. Em entrevista a um jornal holandês, a comissária da UE para políticas de tecnologia, Neelie Kroes, reconheceu abertamente que a exclusão de Atenas não seria um desastre. "Sempre foi dito que se deixarmos um país cair, toda a estrutura entrará em colapso. Mas isso não é verdade."

Já o presidente da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso, se apressou em atenuar as declarações da colega. "Todos os olhos da Europa estão direcionados para Atenas. O custo de um calote grego ou de uma saída da zona do euro seria muito maior que o custo de apoiá-la", disse. "Estamos em um momento crítico para o futuro da Grécia e do euro."

Greve. Mas aos políticos da UE e da Grécia bastava olhar pela janela de seus gabinetes para entender o tamanho da crise. Uma greve geral parou o país. Mais de 20 mil pessoas tomaram as ruas do centro e, em choques com a polícia, dezenas ficaram feridos. "Tenho fome", dizia um cartaz, enquanto jovens queimavam bandeiras nazistas e da Alemanha na praça central.

"Os políticos estão cometendo um crime contra o país, estão levando pessoas à pobreza", disse Vangelis Moutafis, um dos dirigentes da central sindical GSEE. A União dos Sindicatos Europeus saiu em defesa dos gregos. "Trabalhadores gregos estão sendo jogados para o limite do que é aceitável em termos de restrições", alertou a secretária-geral da entidade, Bernadette Segol.