Título: Glencore compra a Xstrata e cria empresa de commodities de US$ 90 bi
Autor: Chade, Jamil
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/02/2012, Negócios, p. B11

Investimento. Companhias com sede na Suíça anunciaram o negócio como uma "fusão de iguais", que cria a quarta maior mineradora do mundo; alguns acionistas, porém, já anunciaram que devem votar contra o acordo, porque ele desvalorizaria as ações

As gigantes Xstrata e Glencore, ambas com sede na Suíça, chegaram a um acordo para formar a maior trading de commodities do mundo, com valor estimado em US$ 90 bilhões. A nova empresa colocará o Brasil como uma de suas prioridades de expansão nos próximos anos. A operação escancara o fato de que investidores vêm apostando alto no futuro das commodities, diante da demanda de países emergentes.

Nas duas empresas, o acordo foi descrito como "fusão entre iguais", e a nova gigante passará a se chamar Glencore Xstrata International PLC. "Estamos criando uma nova potência global nos negócios de commodities", disse o presidente da Glencore, Ivan Glasenberg, que será o presidente do conselho da nova companhia. Na prática, porém, o que ocorreu foi uma compra, com a Glencore pagando US$ 41 bilhões por uma participação de 66% na Xstrata - o grupo já detinha uma fatia de 34% na mineradora.

O presidente da Xstrata, Mick Davis, será o presidente executivo do novo grupo, e os acionista da mineradora ficarão com 45% das ações da nova empresa. A sede do grupo continuará sendo a cidade de Zug, na Suíça, onde as duas companhias já haviam estabelecido bases por conta de isenções fiscais importantes.

O negócio foi considerado por analistas como uma demonstração clara de que o mercado de commodities na próxima década continuará aquecido, que os preços estarão em um patamar elevado e que empresas do setor confiam nos lucros com a demanda da China e de outros emergentes. A fusão de ontem seria o maior exemplo de uma tendência que ganhou força em 2011. No ano passado, empresas de mineração anunciaram aquisições no valor de US$ 168 bilhões, 26% a mais que em 2010.

O anúncio ocorre no momento em que a mineradora Xstrata revelou uma expansão de 20% em seus lucros de 2011, para US$ 5,9 bilhões, bem acima do que o mercado havia previsto.

Desacordo. Nem todos estão de acordo com o negócio, porém. Dois dos dez maiores acionistas da Xstrata indicaram que vão tentar bloquear o processo, previsto para ser votado em abril. Para os acionistas Standard Life Investments e Schroders, a decisão de comprar 66% das ações da Xstrata por US$ 41 bilhões desvaloriza suas ações, como de fato ocorreu ontem. Juntos, os dois grupos detêm 3,6% das ações da empresa. Mas a esperança é de que possam influenciar outros acionistas.

A expansão da nova empresa pode não acabar com a fusão de ontem. Com investimentos nos quatro cantos do mundo, especula-se no mercado que a Glencore Xstrata poderia fazer, por exemplo, uma oferta para a aquisição da mineradora Anglo American. "Fusões e aquisições são áreas que você poderia esperar um grupo como esse estar envolvido", declarou Mick Davis, que deixou claro que vai avaliar novas oportunidades.

Se concluída, a fusão cria a quarta maior mineradora do mundo, ativa em 33 países e que não esconde que pretende rivalizar com a Vale, a BHP Billiton e a Rio Tinto, as maiores do mundo.

A megaempresa já é a maior exportadora de carvão, a maior produtora de cobre e a quarta maior de níquel. A receita chegaria a US$ 209 bilhões e lucros de US$ 16 bilhões em 2011.

Analistas já apontam que a fusão cria a empresa mais completa em termos geográficos e em relação à gama de commodities envolvida. Enquanto a Glencore se especializou em produtos agrícolas e energia, a Xstrata tem feito amplos investimentos em reservas de carvão, cobre e níquel na África, América do Sul e Ásia.

Brasil. As empresas indicaram que o Brasil promete ser um de seus principais focos de investimentos. No País, a Glencore já conta com uma rede de produção de açúcar e usinas para a produção de óleo de soja, com capacidade de 350 mil toneladas por ano. A produção de arroz no Mercosul ainda chega a 1,5 milhão de toneladas. No caso da Xstrata, o projeto Araguaia é uma das principais apostas para o médio e longo prazo. A estimativa é de que a reserva contenha 105 milhões de toneladas de níquel.