Título: Irã testa mísseis no Golfo Pérsico e anuncia avanço em programa nuclear
Autor: Chacra, Gustavo
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/01/2012, Internacional, p. A7

Manobras. Exercício militar com armamento de médio alcance no Estreito de Ormuz e anúncio de progresso na produção de barras usadas como combustível em usinas nucleares ocorrem um dia depois de os EUA divulgarem sanções contra Banco Central iraniano

Um dia depois de os EUA aprovarem duras sanções contra o Banco Central iraniano, o regime de Teerã realizou ontem testes com mísseis de médio alcance próximo ao Estreito de Ormuz e anunciou ter conseguido produzir e testar barras usadas como combustível atômico.

"Pela primeira vez, um míssil anti-radar de médio alcance foi lançado com sucesso em exercícios militares", afirmou o porta-voz da Marinha Mahmoud Mousavi. Os testes ocorrem menos de uma semana depois de o Irã ameaçar fechar o Estreito de Ormuz caso os EUA levassem adiante novas sanções contra o regime.

O general Hossein Salami, do Irã, voltou a dizer ontem que "nenhuma gota de petróleo passará pelo Estreito de Ormuz" caso as sanções americanas sejam aplicadas. Cerca de 40% da produção comercializada no mercado internacional atravessa esta passagem entre o território iraniano e Omã, ligando o Golfo Pérsico ao Oceano Índico.

Ignorando essas ameaças, no sábado, o presidente Barack Obama, de férias no Havaí, assinou uma lei aprovada pelo Congresso dos EUA impondo sanções a instituições que realizem negócios com o Banco Central do Irã. Caso sejam aplicadas com rigor, as medidas dificultarão ainda mais a compra do petróleo iraniano.

Um dos temores de analistas e mesmo da Casa Branca é de que o mercado energético seja afetado, com o preço do petróleo aumentando em um momento de recessão na Europa e fraco crescimento econômico nos EUA. Para evitar consequências imediatas, Obama decidiu que haverá uma espécie de moratória de seis meses antes da aplicação para o mercado se acomodar. Além disso, sua administração pode ser flexível em alguns casos.

A nova lei americana fez a moeda iraniana despencar, atingindo seu nível mais baixo na história, com US$ 1 valendo 16 mil rials. O presidente Mahmoud Ahmadinejad, em reunião ontem, não comentou diretamente as novas medidas, afirmando apenas que o Banco Central "é a espinha dorsal para lidar com as pressões inimigas". A União Europeia espera chegar a uma decisão sobre o aumento de sanções contra o Irã até o final deste mês, segundo o porta-voz de assuntos estrangeiros do bloco, Michael Mann. "Esperamos uma decisão (sobre sanções), no máximo, até a próxima reunião do conselho de assuntos estrangeiros, no dia 30 de janeiro", disse Mann.

A China e a Índia, os principais compradores do petróleo iraniano, podem encontrar meios de continuar adquirindo o produto de Teerã, mas devem exigir descontos nos preços, reduzindo o faturamento dos iranianos.

Os iranianos também celebraram testes com combustível para o reator nuclear. "Isso deve deixar o Ocidente perplexo pois eles não imaginavam que conseguiríamos produzir este combustível", disse o diário Tehran Times. O anúncio é um sinal contraditório das autoridades iranianas, que haviam indicado no sábado estarem dispostas a retomar as negociações com o sexteto, composto pelos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU mais a Alemanha. / COM AP e REUTERS