Título: O tendão de aquiles do Irã
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Fonte: O Estado de São Paulo, 09/02/2012, Internacional, p. A14

Afastar Bashar Assad e acabar com a influência de Teerã sobre a Síria é fundamental para a segurança de Israel

Hoje, nos EUA e em Israel, o debate público está centralizado, obcecadamente, num possível ataque ao Irã para coibir suas ambições nucleares. Mas não há nenhuma discussão sobre como os fatos verificados na Síria poderão resultar numa derrota estratégica para o governo iraniano. A base de apoio do Irã na Síria permite aos mulás de Teerã prosseguir com suas imprudentes e violentas políticas regionais - e sua presença na Síria tem de ter fim.

Conseguir que o Irã seja desalojado do seu núcleo em Damasco pode impedir o acesso de Teerã a seus agentes na região (o Hezbollah no Líbano e o Hamas em Gaza) e atingir seu prestígio doméstico e internacional, provavelmente obrigando um regime que já vem se esvaindo a suspender suas políticas nucleares. Essa seria uma opção mais segura e mais recompensadora que a militar.

À medida que o governo do presidente Bashar Assad titubeia, a Síria transforma-se num tendão de aquiles do Irã. Os iranianos colocaram vastos recursos no país. Existem acampamentos das forças da Guarda Islâmica Revolucionária, armas e conselheiros militares iranianos estão por toda a Síria. E as forças do Hezbollah vêm colaborando na matança de sírios que se rebelaram contra Assad. O Irã quer assegurar esse controle, independentemente do que ocorra a Assad - e Israel e o Ocidente precisam impedir isso a todo custo.

Infelizmente, as oportunidades oferecidas pelo colapso da Síria parecem estar escapando dos líderes israelenses. Na semana passada, o chefe da inteligência israelense referiu-se aos 200 mil mísseis e foguetes em Gaza, Líbano e Síria que podem atingir todos os centros urbanos de Israel. E há um risco crescente de que armas avançadas sírias caiam em mãos de grupos terroristas. A presença do Irã em Damasco é vital para a manutenção de tais ameaças.

No estágio em que estamos, não há volta; Bashar Assad tem de se afastar. Para Israel, a questão crucial não é se ele cairá, mas se a presença iraniana na Síria sobreviverá ao seu governo. Expulsar o Irã da Síria é fundamental para a segurança de Israel. Com a saída de Assad, a hegemonia iraniana na Síria terá de ir junto. Se isso não ocorrer, a partida do líder sírio não terá nenhum significado.

Israel não deve ser o único nem o principal ator numa ação para acelerar sua saída. Qualquer resultado viável na Síria terá de envolver EUA, Rússia e países árabes. Os EUA precisam oferecer à Rússia incentivos para o país deixar de proteger o regime sírio, que provavelmente cairá quando Moscou retirar seu apoio. Uma força com um mandato da Liga Árabe deverá, então, garantir a estabilidade até um novo governo ser empossado na Síria.

O atual impasse no caso sírio oferece uma rara chance de pôr fim à ameaça iraniana para a segurança e o bem-estar internacionais. Um fim da presença iraniana na Síria significará menos risco para o comércio e a segurança internacionais do que sanções mais severas ou mesmo a guerra. / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO