Título: Cerco de Assad à cidade de Homs mata 18 bebês, afirma oposição síria
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Fonte: O Estado de São Paulo, 09/02/2012, Internacional, p. A14

Repressão. Recém-nascidos em UTI não teriam resistido a corte de energia imposto por forças de Damasco ao principal reduto opositor; Conselho Nacional Sírio afirma que mais de 100 morreram entre terça-feira e ontem, 5º dia de ofensiva

Forças do ditador sírio, Bashar Assad, intensificaram ontem os ataques à cidade de Homs, principal reduto da oposição síria. Grupos de dissidentes e moradores sitiados afirmam que mais de 100 pessoas morreram entre terça-feira e ontem - no fim de semana, 260 teriam sido assassinadas. Ainda de acordo com opositores, o corte de energia elétrica imposto pelo regime matou 18 bebês prematuros que estavam na UTI de um hospital de Homs.

Pelo menos cinco corpos das crianças mortas no centro médico infantil Al-Walid foram entregues às suas famílias, todas moradoras do bairro de Al-Yalidiya. Segundo relato da oposição, as tropas de Assad entraram com tanques em pelo menos quatro bairros residenciais, disparando contra residências.

Na terça-feira, após se reunir com Assad em Damasco, o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, havia afirmado que o ditador sírio estava "completamente comprometido" com o fim da violência. Assad agradeceu a Lavrov pela decisão russa de vetar uma resolução da ONU condenando a Síria. A China também votou contra a punição.

Ainda ontem, o secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon disse que a Liga Árabe pretende enviar novamente observadores à Síria, mas deseja que a missão seja realizada em conjunto com a ONU.

Segundo o Conselho Nacional Sírio (CNS), principal comitê político da oposição a Assad, 20 crianças morreram nos ataques de ontem a Homs. O Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) estima em 400 o número de crianças mortas em 11 meses de crise. Outras 400 estariam nas prisões do regime.

As informações divulgadas por grupos opositores e residentes de Homs não podem ser verificadas, porque o regime Assad controla a entrada de jornalistas e observadores independentes. Filmes postados no YouTube mostravam apartamentos sendo diretamente alvo de obuses e foguetes, entre cortinas de fumaça e corpos estendidos pelas ruas. Ao fundo, há gritos de pânico e barulho de artilharia.

Um dissidente filmou o lento avanço de uma coluna de blindados por uma avenida. Dezenas de filmes de corpos de crianças e mulheres que teriam sido mortos ou feridos nos ataques de ontem também foram colocados em redes sociais da internet.

Desertores das forças de Assad teriam encontrado na cidade um de seus principais redutos. Nas imagens divulgadas, é possível ver homens em trajes civis carregando fuzis Ak-47. Os soldados que deixam as fileiras de Damasco unem-se ao Exército Livre da Síria.

Carta branca. A alta-comissária de Direitos Humanos da ONU, Navi Pillay, protestou contra a ofensiva das forças de Assad e indiretamente culpou potências que vetaram a resolução condenando a Síria - Rússia e China - pela nova onda de massacres.

"Estou chocada com o premeditado ataque do governo da Síria e o uso de artilharia e outras armas pesadas no que aparentemente são ataques indiscriminados contra áreas civis da cidade", disse Navi por meio de nota. "O fracasso do Conselho de Segurança em chegar a um acordo sobre uma ação coletiva firme parece ter ampliado a disposição do governo sírio em massacrar o próprio povo, tentando esmagar a oposição."

O regime sírio nega as informações sobre massacres em Homs e afirma estar "perseguindo terroristas infiltrados" na cidade. Ontem, a rede estatal de notícias de Damasco, Sana, afirmou que um carro-bomba havia explodido no centro de Homs. A informação, entretanto, não foi confirmada pela oposição nem por residentes.

Baba Amr. A TV síria também noticiou que "um certo número de cargas explosivas foram detonadas no bairro de Baba Amr, deixando civis e militares mortos". Na mesma região, ainda segundo o regime, "terroristas atacaram uma refinaria e atearam fogo a depósitos de combustível". A oposição afirma que Baba Amr foi o palco da mais violenta ofensiva das forças de Assad.

Moradores do bairro afirmavam que, além da energia elétrica, as linhas de telefone e sinais de celulares haviam sido bloqueados. Mohammad Hassan, ativista de Homs, afirmou em entrevista à TV Al-Jazeera que os disparos das forças de Assad se intensificaram a partir do nascer do sol. "Disparos de foguetes e morteiros diminuíram", disse ele em entrevista na tarde de ontem (madrugada no Brasil). "Mas os tiros de metralhadoras e artilharia antiaérea ainda se mantêm."

Hassan contou que tanques foram colocados nos principais cruzamentos de três bairros, além de Baba Amr: Al-Bayada, Khalidiyeh e Wadi al-Arab. / AP