Título: Para bancar ágio de 159%, Triunfo vai investir R$ 3,5 bi menos em Viracopos
Autor: Pereira, Renée
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/02/2012, Economia, p. B1

Empresa diz que foi possível dar um lance alto pelo aeroporto porque seu investimento será menor que o previsto pelo governo

Um dia após a debandada dos investidores e a ameaça de revisão da classificação de risco pela agência Fitch, a Triunfo Participações, líder do consórcio que venceu a concessão do Aeroporto de Viracopos, em Campinas, apresentou seu plano de negócios para o mercado. Um dos itens que explicam a oferta com ágio de 159% está no volume de investimentos, R$ 3,5 bilhões menor que o calculado pelo governo federal.

Segundo o presidente da empresa, Carlo Botarelli, os números do governo mostram investimentos de R$ 11,5 bilhões em expansão e manutenção do aeroporto. Mas, com uma série de melhorias no projeto, reordenação de espaço e previsões de tráfego, foi possível reduzir o volume de investimentos para R$ 8 bilhões e elevar o retorno de 7,5% para 8,5%.

Além disso, a previsão de passageiros do consórcio é diferente da apresentada pelo governo. A Triunfo espera 84 milhões por ano até o fim da concessão enquanto a previsão oficial é de 90 milhões. "Orçamos este projeto no centavo. Fizemos quase um projeto em nível executivo."

O Brasil já viu isso em outras concessões, como as de hidrelétricas. O grupo que ganhou a usina de Jirau, no Rio Madeira, havia conseguido uma redução de R$ 1 bilhão. Agora, segundo informações de mercado, ela estaria negociando um financiamento adicional para terminar a usina.

A princípio Botarelli afirmou que os investimentos estavam atrelados à demanda. Se o fluxo de passageiros não atingisse a expectativa, não haveria o investimento. O executivo, no entanto, corrigiu a informação e afirmou que a segunda e terceira pistas são obrigatórias na segunda fase de investimentos. Apenas a quarta pista está associada a movimentos anuais. A Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) destacou ainda que todos os investimentos previstos até a Copa de 2014 terão de ser feitos dentro do prazo, sob ameaça de multas.

Pelo plano da Triunfo, os picos de investimentos devem ocorrer em 2013, 2024 e 2036 - períodos que coincidem com a necessidade de construção das pistas. O primeiro grande investimento será o novo terminal de passageiros. Botarelli fez questão de tranquilizar os investidores em relação à divida da empresa. Segundo ele, com Viracopos, a relação entre a dívida líquida e o fluxo de caixa vai cair de 3,25 vezes para 2,7 vezes.

Apesar disso, o mercado continua desconfiado das propostas apresentadas pelos consócios no leilão de segunda-feira. Com base nos pagamentos obrigatórios, como a outorga, especialistas não descartam a possibilidade de as empresas pedirem um reequilíbrio econômico-financeiro no decorrer do contrato, o que na prática significaria aumento de tarifas. Fato que também tem sido corriqueiro no Brasil. / COLABORARAM SILVANA MAUTONE E FERNANDA GUIMARÃES