Título: Acordo com a Grécia esbarra nas aposentadorias
Autor: Chade, Jamil
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/02/2012, Economia, p. B9

aposentadorias Exigência da UE de reduzir as aposentadorias acima de 1,2 mil em 20%, além de corte de 15% nas demais, estabelece novo impasse na negociação

A história de promessas quebradas pela Grécia ganhou mais um capítulo ontem. Depois de sete horas de negociações, os líderes políticos gregos fracassaram em chegar a um acordo sobre um pacote de austeridade exigido pela União Europeia e pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) para liberar um resgate de 130 bilhões. O impasse ficou por conta da demanda de Bruxelas para que as aposentadorias fossem reduzidas.

Hoje, os ministros da UE se reúnem no final da tarde, na esperança de que, até lá, o último obstáculo para o acordo já tenha sido superado. Para analistas, o fato de a UE ter convocado a reunião de hoje, com a presença da diretora-gerente do FMI, Christina Lagarde, seria um sinal de que o acordo está próximo.

O rascunho do documento entre a UE e a Grécia já conseguiu apoio para um corte de 22% no salário mínimo, que passaria para 586, e a demissão de 15 mil funcionários públicos este ano.

Os líderes políticos gregos entraram pela madrugada negociando os termos do acordo, enquanto recebiam do FMI mais uma notícia ruim. Pelas novas projeções, a economia grega contrairá mais 5% em 2012, o dobro do previsto e somando 16% de redução em cinco anos de crise.

Mesmo assim, Bruxelas não aprovará o pacote de resgate sem o apoio de todos os partidos ao novo projeto de austeridade. O plano inclui economia extra de 13 bilhões até o final de 2014.

Teatro. Mas o teatro político grego voltou à cena no início da madrugada. O gabinete do primeiro-ministro Lucas Papademos indicou que todos os pontos do acordo estavam fechados, salvo a questão das aposentadorias. Com eleições marcadas para abril, os dois principais candidatos se apressaram em aparecer como defensores do povo. Pelo projeto, os gregos se comprometem a reduzir as aposentadorias acima de 1,2 mil em 20%, além de um corte de 15% em todas as demais, resultando em economia de 300 milhões.

Antonis Samaras, líder dos conservadores e favorito nas eleições, anunciou que havia freado a proposta e que queria "suavizar o sofrimento do povo". George Papandreou, líder do Partido Socialista e ex-primeiro-ministro derrubado pela crise, alega que foi ele que vetou o projeto, em nome do povo.

Papademos voltará a negociar com o FMI e a UE uma modificação na proposta ainda hoje.

O acordo entre os partidos políticos será fundamental também para desbloquear o acordo com bancos privados, que aceitaram um calote de 70% na dívida grega: na prática, um descocnto de 100 bilhões.

Para os europeus, a Grécia tem duas opções: aceitar essas exigências ou se preparar para um calote desordenado. Em março, o governo precisa de 14 bilhões para honrar suas dívidas. Sem o dinheiro, Bruxelas já vê como inevitável a saída da Grécia da zona do euro.