Título: Exército aperta cerco e Bahia já fala em expulsar grevistas à força da Assembleia
Autor: Décimo, Tiago
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/02/2012, Metrópole, p. C1-5

Tentativa de acordo pacífico não avança e 1.470 homens de tropas federais engrossavam ontem dois cordões de isolamento do prédio

Em um dia sem negociações entre grevistas e governo da Bahia, o Exército voltou a apertar o cerco aos policiais amotinados na Assembleia Legislativa. E o secretário da Casa Civil, Rui Costa, disse que o governo não vai mais negociar com os líderes do movimento e o Exército poderá usar a força para "resolver a situação".

"A paciência da sociedade está se esgotando. Vão chegar mais tropas à Bahia e a situação será resolvida, de uma forma ou de outra", afirmou Rui Costa. "Não negociamos com o (Marcio) Prisco (presidente da Aspra, que comanda a ação na Assembleia), que tem contra si um mandado de prisão expedido. E esse mandado será cumprido nas próximas horas."

O Estado até admite pagar a gratificação solicitada pelos sindicalistas, mas em um prazo maior, e não abre mão de punir os líderes da greve. Depois de se reunir com o governador Jaques Wagner, o deputado federal Nelson Pelegrino (PT) reiterou que o governo já cedeu o que podia na questão salarial. Em nota oficial, a bancada baiana no Congresso afirma que a situação "chegou ao limite". Nenhum integrante da oposição, porém, quer comentar o caso.

As linhas montadas ontem pelos militares para isolar os manifestantes foram estendidas em cerca de 300 metros - o que levou ao bloqueio de todos os acessos ao Centro Administrativo da Bahia (CAB). O número de integrantes do Exército no local também foi aumentado, de 1.050 para 1.200 - há ainda 50 policiais da Força Nacional, 200 de grupos da PM baiana e 20 da Polícia Federal.

O momento de maior nervosismo foi registrado pela manhã, quando um grupo foi impedido de levar mantimentos e remédios para os acampados. Como resposta, os grevistas passaram a gritar palavras de ordem e a provocar os militares. À tarde, um grupo de simpatizantes do movimento bloqueou por meia hora a Avenida Paralela, principal acesso ao aeroporto de Salvador.

Violência. Os homicídios na região metropolitana já somam 135 desde o início da greve, no dia 31. Só entre a madrugada e a tarde de ontem, foram seis assassinatos. A população reclama que o Exército não tem feito patrulha à noite na periferia da capital.

Em Feira de Santana, a 109 km de Salvador, tropas do Exército montaram pequenas bases perto de seis hospitais e de prontos-socorros da periferia. Os médicos e enfermeiros ameaçavam parar de trabalhar por falta de segurança. / COLABORARAM DIEGO ZANCHETTA E LUCIANA NUNES LEAL, ENVIADOS ESPECIAIS A SALVADOR