Título: Ministro fez manobra para usar verba da transposição em barragem de PE
Autor: Bresciani, Eduardo
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/01/2012, Nacional, p. A4

O ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra Coelho, tentou tirar R$ 50 milhões do Orçamento de 2012 da obra de transposição do Rio São Francisco para destinar recursos a uma barragem em Pernambuco, seu berço político. A tentativa foi feita por meio de ofício encaminhado em outubro de 2011 ao Ministério do Planejamento em que pedia uma realocação de recursos para destinar o montante à barragem de Serro Azul, na Zona da Mata pernambucana.

A manobra foi barrada pelo Congresso na votação do Orçamento. O Estado revelou, em dezembro passado, que as obras da transposição, principal empreendimento do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) no Nordeste, estão abandonadas em diversos lotes e que parte do trabalho começa a se perder.

Até novembro de 2011, somente 5,2% do Orçamento de 2011 destinado à transposição tinha sido executado. A ação do ministro de tirar dinheiro da principal obra de sua pasta reforça as acusações de uso político do cargo devido à destinação prioritária de recursos do ministério a Pernambuco, onde tem pretensões eleitorais e é apadrinhado do governador Eduardo Campos, que preside o PSB.

O pedido de remanejamento feito pelo Ministério da Integração chegou ao Congresso no dia 6 de dezembro de 2011. A justificativa enviada aos parlamentares dizia que a mudança era necessária para incluir Serro Azul no PAC. A construção da barragem é comandada pelo governo de Pernambuco e tem custo estimado de R$ 350 milhões. A certeza da aprovação era tão grande que outros R$ 4 milhões até então destinados a Serro Azul foram realocados. Por questões burocráticas, todos os pedidos de mudança têm de ser feitos pela pasta interessada ao Ministério do Planejamento, que encaminhou a solicitação ao Congresso.

Reação. A bancada do Nordeste, porém, não aceitou a mudança. Os parlamentares ficaram irritados porque o ministério nem sequer justificou o motivo da redução de recursos da transposição. "Mobilizamos a bancada do Nordeste contra isso. O ministério deve ter as prioridades dele, mas a transposição é a prioridade do Nordeste", afirmou o deputado Efraim Filho (DEM-PB).

Ele e mais dois colegas apresentaram emendas pedindo a recomposição dos recursos da principal obra para a região. O relator responsável por analisar o orçamento da Integração, José Priante (PMDB-PA), chegou a apresentar um parecer acatando a sugestão do ministério, mas recuou diante da pressão dos nordestinos e manteve em R$ 900 milhões a previsão de recursos para a transposição em 2012.

Em nota enviada ao Estado, o ministério argumenta que retirar recursos da transposição "não impactaria o ritmo de execução do projeto" devido ao estoque de empenhos realizados. Segundo a pasta, a obra tem recursos empenhados de R$ 1,2 bilhão referentes a restos a pagar de anos anteriores e ultrapassaria R$ 2 bilhões disponíveis considerando-se o Orçamento de 2012.

A pasta reafirma a prioridade da transposição: "O Projeto São Francisco é a maior ação estruturante no âmbito do eixo de recursos hídricos e conta com o compromisso do governo federal na conclusão da obra e na retomada de um ritmo acelerado de execução no primeiro trimestre de 2012". Sobre a barragem de Serro Azul, a pasta diz ser a "maior obra do sistema de contenção de enchentes da Zona da Mata pernambucana".

Um "protetor" de Pernambuco

O ministro Fernando Bezerra Coelho (PSB) está na berlinda depois de o Estado ter revelado, na terça-feira, que ele destinou a Pernambuco quase 90% das verbas de que o Ministério da Integração Nacional dispõe para prevenção de desastres naturais em todo o País.

Foram R$ 25,5 milhões para apenas duas obras, barragens do Estado. O segundo melhor aquinhoado, o Paraná, recebeu apenas R$ 1,8 milhão.

Informada, ainda de férias na Bahia, a presidente Dilma Rousseff escalou a ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, para fazer uma radiografia desses recursos e cobrar explicações. Na quarta-feira, Bezerra disse que o governo conhecia e aprovava suas decisões. E desabafou: "Não se pode discriminar Pernambuco por ser o Estado do ministro".