Título: Caderneta de poupança tem a menor captação em cinco anos
Autor: Nakagawa, Fernando
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/01/2012, Economia, p. B4

Em 2011, captação foi de R$ 14,2 bi. resultado 63,3% menor que o de 2010, melhor ano da história para a caderneta

O investimento na poupança despencou em 2011. Dados do Banco Central mostram que a captação de novos recursos somou R$ 14,2 bilhões no ano passado, valor mais baixo desde 2006. Esse resultado é 63,3% menor que o visto em 2010, o melhor ano da história para as cadernetas. O maior comprometimento da renda das famílias com as dívidas, que reduz a capacidade de poupar, e a migração de recursos para os fundos de renda fixa podem explicar a piora dos números.

Pelo sexto ano consecutivo, os depósitos superaram os saques na poupança. O ritmo das aplicações, porém, foi o mais fraco em cinco anos. Nem mesmo na crise passada, entre 2008 e 2009, as cadernetas sofreram tanto. Analistas dizem que a queda dos números não surpreende porque uma série de fatores colaboraram durante o ano para a menor capacidade de poupança das famílias.

"O aumento do endividamento observado nos últimos anos eleva o pagamento mensal das parcelas e diminui o fôlego para poupar", diz o professor de finanças da Fundação Instituto de Administração (FIA), Ricardo José de Almeida. "Com dívidas que podem ser um pouco acima do razoável e o aumento do juro no primeiro semestre, a renda fica mais comprometida."

A professora de finanças do Insper, Angela Menezes, concorda e diz que esse fenômeno afeta especialmente os poupadores de menor renda. "Já que o crédito segue em expansão, o desemprego não piorou e a renda segue crescendo, os números podem sinalizar alguma indisciplina financeira. Poupadores de maior renda não usam tanto a poupança e costumam ter mais folga no orçamento", diz.

Dados do BC mostram que as dívidas comprometem uma parcela cada vez maior da renda das famílias. Em setembro de 2008, 18,2% do salário de cada brasileiro era gasto mensalmente para pagar dívidas. Há um ano, a parcela havia crescido para 19,3%. Nos últimos meses, porém, a velocidade cresceu com força e o comprometimento alcançou 22,6% da renda em outubro, novo recorde.

Migração. Outro fenômeno que prejudica as cadernetas é a migração de recursos para os fundos de renda fixa. Levantamento da entidade que representa as instituições do mercado financeiro e de capitais, a Ambima, mostra que os fundos de renda fixa captaram R$ 55,4 bilhões em novas aplicações no ano passado. Essas carteiras são uma das mais conservadoras porque aplicam em títulos do governo que seguem a remuneração da taxa Selic. Por isso, são consideradas concorrentes da poupança.

Não é difícil entender os motivos para uma migração de recursos. Em 2011, a média dos fundos desse tipo rendeu 12,47%, quase o dobro do rendimento das cadernetas que pagaram juro próximo de 7% no ano.

"Além da rentabilidade, houve uma mobilização por parte dos bancos para atrair mais recursos", diz Ricardo José de Almeida, da FIA.

Nos últimos anos, muitos bancos reduziram taxas de administração, facilitaram o acesso a essas carteiras e, em algumas casas, até passaram a oferecer sorteio de brindes como carros para atrair novos clientes.