Título: Sobreviventes denunciam ação premeditada
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Fonte: O Estado de São Paulo, 03/02/2012, Internacional, p. A10

Sobreviventes da briga de torcidas que deixou 74 mortos em Port Said, na quarta-feira, 1, acusaram ontem a polícia egípcia e partidários do ex-ditador Hosni Mubarak de terem planejado o massacre. A passividade dos policiais, o fechamento dos portões para a torcida visitante, e um apagão durante a briga foram citados pelos torcedores como as causas da maioria das mortes.

Segundo testemunhas, ao ver que seriam atacados, os torcedores do Al-Ahly abandonaram as arquibancadas às pressas e tentaram fugir pelos estreitos corredores do estádio. Mas descobriram, poucos metros depois, que os portões estavam trancados, mesmo com o jogo encerrado. Enquanto alguns eram esfaqueados, outros foram esmagados e sufocados contra os portões.

Na outra extremidade do estádio, os portões da ala da torcida rival, o Al-Masry, estavam abertos. "Fomos surpreendidos pelo fato de, do outro lado do estádio, a polícia não ter impedido a invasão de campo", escreveu Ahmed Ghaffar, torcedor do Al-Ahly no Twitter. "As pessoas amontoavam-se, pois não havia saída. Tínhamos duas opções: a morte vindo em nossas costas ou os portões fechados."

Ao Estado, o torcedor levantou a suspeita de que a briga foi premeditada. "Caímos em uma emboscada", disse. "Não foi uma briga de futebol."

Com vários dos torcedores já mortos, os organizadores da partida desligaram a energia no estádio. Os corredores, já escuros, tornaram-se verdadeiros corredores da morte.

Infiltração. Ontem, houve denúncias de que a briga foi provocada por agentes infiltrados na torcida do Al-Masry. Segundo o jornal britânico The Guardian, muitos torcedores do time local tentaram ajudar as vítimas a escapar.

Um deles, Mohammed Mosleh, escreveu em sua página de Facebook que o massacre foi cometido por "criminosos com armas", insinuando que esses grupos teriam sido infiltrados na torcida.

Manifestantes foram às ruas de Port Said para acusar as forças de segurança da era Mubarak pela violência. No Cairo, os caixões das vítimas que chegavam à capital eram recebidos com gritos de guerra contra os militares.