Título: Presidente mexicano liga para Dilma e aceita renegociar acordo automotivo
Autor: Moura, Rafael Moraes
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/02/2012, Economia, p. B1

Brasil e México começam na próxima semana a renegociar o tratado automotivo entre os dois países, em vigor desde 2002. A decisão foi selada ontem entre a presidente Dilma Rousseff e seu colega mexicano, Felipe Calderón. "Queremos rever os termos do acordo. Isso vai ser feito em um prazo relativamente curto", disse o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel.

Calderón ligou para a presidente ontem à tarde. Durante a conversa, que durou cerca de 15 minutos, Dilma explicou ao colega mexicano os problemas identificados pelo Brasil na atual estrutura do tratado.

"Calderón mostrou abertura em rever os termos de negociação do acordo. No momento atual, o acordo, de fato, é desequilibrado contra o Brasil. Ele entendeu as razões", disse Pimentel, que junto com o ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, acompanhou a conversa.

A ameaça de romper o tratado automotivo, antecipada pela coluna de Sonia Racy, no Estado, foi a forma encontrada pelo governo brasileiro para pressionar os mexicanos a retomarem uma discussão mais ampla. Desde 2009, o Brasil negocia um amplo acordo com o México, que engloba desde comércio até investimentos e compras governamentais. O fraco desempenho das exportações no início deste ano acabou servindo de estopim para que o governo elevasse o tom da discussão.

Pimentel negou que o governo estivesse interessado numa "ruptura" do acordo. "Isso não se coloca. O que existe é uma cláusula de saída, prevista no acordo, que pode ser utilizada caso o acordo deixe de ser interessante. O que apontamos como uma possibilidade foi a utilização da cláusula de saída."

A disposição, entretanto, é rever os termos do acordo. "Queremos aumentar o conteúdo regional na produção dos veículos, tanto no México quanto no Brasil, e ampliar o acordo, de forma que não seja apenas para automóveis de passeio e inclua caminhões, ônibus, utilitários", explicou Pimentel.

O ministro da Economia mexicano, Bruno Ferrari, e a chanceler Patrícia Espinosa devem vir ao Brasil na próxima semana para tratar do assunto.

O presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Cledorvino Belini, disse que o setor aceita negociar uma mudança no acordo. "Achamos o acordo muito importante para o nosso País. Confirmamos a necessidade de manter esse acordo", disse, após reunião com o secretário executivo do Ministério da Fazenda, Nelson Barbosa.

Ao ser informado sobre o telefonema entre Dilma e Calderón, o executivo comemorou. "Isso é ótimo, é um passo importante que a gente vê com bons olhos. Entendemos que esse é o caminho." / COLABORARAM EDUARDO CUCOLO E CÉLIA FROUFE