Título: Diplomatas brasileiros exigem informações sobre riscos
Autor: Paraguassu, Lisandra ; Vaz, Viviane
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/01/2012, Internacional, p. A8

Morte de Milena Medeiros, vítima de malária contraída na África, põe à tona falta de orientações da diplomacia brasileira

A rebelião de um grupo de diplomatas depois da morte de sua colega Milena Medeiros, de 35 anos, vítima de malária contraída em uma viagem à Guiné Equatorial, trouxe à tona um aspecto em que a diplomacia brasileira pode não estar tão bem preparada: as informações e riscos encontrados em lugares para onde devem viajar, seja em missões temporárias ou permanentes. Ao contrário de países como EUA ou Grã-Bretanha, não há, por exemplo, uma articulação com a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) para troca de informações de segurança ou mesmo com o Ministério da Saúde sobre os riscos de determinados lugares. Diplomatas e funcionários de chancelaria ouvidos pelo Estado reclamam que não recebem orientações claras tanto de segurança quanto de saúde. Um funcionário que serve na África Subsaariana explica que a situação no país em que trabalha vem se modificando, mas as informações que recebe vêm, na maioria, de colegas de outras embaixadas estrangeiras, especialmente as europeias. "Todas as medidas de prevenção, tanto de doenças quanto relacionadas à segurança física, foram aprendidas com colegas de outros países que já estavam no local." As informações, na verdade, existem. a Itamaraty explica que é preparado um "guia do posto" para todos os locais com os quais o Brasil tem relações diplomáticas. Estão ali desde coisas banais, como a voltagem elétrica no local até dados sobre a situação política e econômica, chegando até mesmo a indicar locais onde não se hospedar, morar ou circular. a problema é que o documento não é necessariamente encaminhado para o servidor que vai ao local. Recebe apenas quem procura - o que costuma ser mais comum para quem vai morar do que em missões temporárias. a Itamaraty também não tem, por exemplo, um trabalho de cooperação com a Abin e usa suas próprias informações. A agência tende a se concentrar mais em relatórios sobre questões internas ou em temas externos com relação direta com o• Brasil. Mas pode, se provocada, preparar o tipo de documento necessário ao Itamaraty. Mas hoje essa relação não existe. A morte de Milena acelerou um processo que, de acordo com o porta-voz do ministério, embaixador Tovar Nunes, já está em curso. a Itamaraty estuda mudanças no processo, em parte por conta da própria ampliação da atuação do Brasil no exterior. Hoje os diplomatas e funcionários de chancelaria precisam visitar países sobre o qual se sabe muito pouco e com riscos desconhecidos dos brasileiros. Esse não é caso da malária que matou Milena. Mas o incentivo e até mesmo a obrigatoriedade de exames de rotina, anuais e pós-viagens, podem ser instituídos. Acordos com a Abin para aumentar o fluxo de informações e com o Ministério da Saúde para que haja um tratamento mais rápido em casos de risco também estão sendo estudados. As mudanças podem afetar até mesmo o sistema de segurança das embaixadas, hoje, na maior parte dos países, feita por pessoal local. Estuda-se a possibilidade de usar homens das Forças Armadas brasileiras como é feito por vários países, como EUA e Israel, entre outros.