Título: Petrobras teme demora na entrega de sondas
Autor: Torres, Sergio ; Valle, Sabrina
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/01/2012, Economia, p. B7

No fim de 2011, estatal cancelou licitação para compra de equipamentos por incertezas sobre prazos se preços

A incerteza de que as encomendas serão entregues no prazo exigido e os preços apresentados pelas duas empresas participantes levaram a Petrobrás a cancelar, no fim de 2011, a licitação bilionária para a contratação de 21 sondas de perfuração marítima, equipamentos indispensáveis ao desenvolvimento da exploração de óleo e gás na camada pré-sal. A apresentação dos resultados da licitação já tinha sido adiada duas vezes antes do anúncio do cancelamento. Nas discussões conduzidas pela petroleira desde a abertura dos envelopes, no segundo semestre do ano passado, os representantes das empresas concorrentes Sete Brasil Participações e Ocean Rig do Brasil argumentam que os preços apresentados estão altos por causa do nível de exigência de conteúdo local na construção das sondas, em torno de 70%. Cálculos do setor de petróleo estimam em cerca de US$ 70 bilhões o valor total dos contratos a serem firmados pelo prazo de 15 anos. Para atingir o patamar, as operadoras brasileiras precisam convencer os fornecedores internacionais a transferirem tecnologia, o que encarece a negociação. Especialmente na tecnologia de softwares e sistemas, a maior carência da indústria naval brasileira. Aço, mão de obra e demais componentes disponíveis no mercado interno seriam suficientes para atingir apenas 60% de conteúdo local. A hipótese de demora na entrega das sondas, prevista para Z017, preocupa a Petrobrás. Os atrasos atrapalham muito os planos da companhia. A contratação das 21 sondas foi anunciada em 2009. Passados três anos, nem a licitação foi concluída. Na ocasião do anúncio, a Petrobrás informou que, do lote de 28 sondas, as primeiras 7 - contratadas no ano passado à Sete Brasil estariam em operação em 2013, o que não ocorrerá. O novo prazo da empresa é 2015. O cancelamento da licitação foi divulgado na noite de 22 de dezembro em comunicado sucinto - dois parágrafos, cada um com duas linhas - distribuído pela Petrobrás. O aviso surpreendeu o setor,já que havia a expectativa de a petroleira definir o vencedor até o final do ano, como forma de acelerar o processo das sondas, já atrasado. Processo. A"licitação foi lançada no início de junho. Constituídas no ano passado, a Sete e a Ocean Rig tiveram as propostas seleciona das. ASete tem a Petrobrás como sócia, com cerca de 10% do capital, aliada a bancos e fundos de pensão. Era apontada por especialistas como favorita. A oponente é vinculada ao Grupo Sinergy, presidido pelo empresário German Efromovich, da construção naval. Para surpresa do setor, a Ocean Rig superou a concorrente, por ter apresentado valores mais baiXos para a construção e afretamento de um lote de cinco sondas. O afretamento sairia por US$ 584 mil por dia, contra US$ 620 mil propostos pela Sete Brasil para as 21 sondas. O modo de concorrência foi o de abertura dos envelopes diante dos concorrentes. A vitória da empresa de Efromovich não foi confirmada pela Petrobrás, que convocou as concorrentes a apresentar novas propostas, na tentativa de reduzir os gastos futuros. Dessa vez, os envelopes foram abertos de maneira reservada. Como ocorrera nas primeiras propostas, a estatal não revelou quem se saiu melhor da segunda vez. Foi a Sete Brasil, segundo apurou o Estado. A Ocean Rig manteve a proposta inicial. A oponente reduziu a sua em cerca de U$ 45 mil por dia de afretamento. Mesmo assim, a Petrobrás continuou insatisfeita e, diante da impossibilidade de abrir uma terceira rodada de propostas, resolveu cancelar a licitação. A estatal não fez comentários adicionais à nota oficial, sob o argumento de que não comenta procedimentos licitatórios. Questionado em encontro com jornalistas no fim do ano passado sobre as sondas, o presidente da estatal, José Sérgio Gabrielli, se recusou a abordar o tema. No comunicado, a Petrobrás se limita a informar que "iniciará imediatamente a negociação com as duas proponentes, Ocean Rig do Brasil Ltda. e Sete Brasil Participações S/A, tendo como objetivo melhores condições". As concorrentes sustentam que uma negociação direta trará mais transparência ao processo e pode resultar em preços melhores. Para a Sete Brasil, manifestando-se por nota, o processo "poderá resultar em especificações para as sondas a serem construídas no Brasil mais próximas daquelas aplicadas às sondas internacionais, fazendo com que os preços ofertados também se aproximem significativamente dos preços praticados pelo mercado internacional". A contratação das sondas no exterior poderia ser mais barata para a Petrobrás, mas o governo determinou a construção dos equipamento no Brasil, por entender que a encomenda estimulará a indústria nacional. A seu favor, a Ocean Rig tem o fato de oferecer a construcão das sondas em estaleiros já ~m operação, como o Mauá e o Eisa, no Rio. Já a Sete Brasil prevê a contratação do Brasfels (Angra dos Reis) para parte da encomenda. O restante seria feito em "estaleiros virtuais", constituídos paralelamente às sondas - um risco em termos de prazo.