Título: Duvidar de preço baixo é dica para escolher silicone
Autor: Bassete, Fernanda
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/01/2012, Vida, p. A23/24

Escolha das próteses é feita pelos médicos, não pelas pacientes; implantes mais baratos podem ter material de qualidade inferior

Ao decidir usar uma prótese de silicone, as mulheres precisam estar atentas a duas questões básicas: procurar um cirurgião plástico que seja de confiança e desconfiar de preços muito baixos.

Isso porque, na maioria das vezes, a escolha da prótese não é feita pela mulher e sim pelo médico, já que é ele quem possui informações técnicas e científicas para decidir qual o melhor implante. Além disso, o preço de uma cirurgia desse porte varia de R$ 10 mil a R$ 15 mil - incluindo a aquisição das próteses e o pagamento do cirurgião, anestesista, hospital, equipe etc.

Hoje em dia, usar prótese de silicone nas mamas é o desejo de muitas mulheres - estima-se que são feitas ao menos 120 mil cirurgias de implante mamário todos os anos no Brasil, a maioria delas com fins estéticos.

"Em geral, a indicação de uma marca de prótese é feita por meio de estudos científicos que o fabricante apresenta para demonstrar segurança e qualidade das próteses. Hoje temos três marcas, uma delas brasileira, que têm estudos importantes", explica a cirurgiã Wanda Elizabeth Corrêa, presidente da Comissão de Silicone da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica.

Dados da sociedade tabulados pelo Estado apontam que o Brasil possui ao menos 15 empresas que vendem próteses de silicone - duas são fabricantes nacionais, que até exportam o produto, e as demais são importadoras.

Juntas, sete delas comercializam ao menos 300 mil próteses por ano (entre o mercado nacional e internacional) e os preços dos pares de silicone variam de R$ 1.250 a R$ 3.300, dependendo da marca e modelo. Algumas empresas não informaram esse dado por questões de sigilo (mais informações nesta página).

"Algumas (marcas) são bem caras, outras bem baratas, e é aí que mora o perigo", alertou o cirurgião Fausto Viterbo, responsável pelo setor de cirurgia plástica da Universidade Estadual Paulista. "Se a mulher escolher o médico que cobra um preço muito baixo, é óbvio que ele vai oferecer a prótese mais barata", diz.

Segundo o mastologista José Luiz Pedrini, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Mastologia, no caso de implante de prótese para reconstrução da mama após tratamento de câncer pelo Sistema Único de Saúde (SUS), a mulher também não tem alternativa de escolha de marca. Ela vai receber a prótese que o hospital adquirir por meio de licitação - vence a empresa que apresentar o menor preço. O SUS paga R$ 744 por unidade.

Rigor. Para Jorge Wanfurgur, proprietário da Lifesil, uma das empresas brasileiras do setor, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) deveria fiscalizar as companhias estrangeiras com o mesmo rigor que dedica às nacionais.

Ele argumenta que a agência visita anualmente as empresas nacionais para confirmar se houve alguma alteração no processo produtivo ou na documentação. "Já as fábricas internacionais são vistoriadas a cada cinco anos", diz. "No caso da PIP, o problema foi justamente que mudaram a formulação sem avisar as agências de vigilância sanitária."

Ele recorda que apenas duas fábricas no mundo - ambas na Califórnia - produzem gel de silicone para uso médico. "E nem todas as marcas do mercado nacional utilizam esse tipo de silicone", aponta o empresário, que também é cirurgião plástico.

Wanfurgur afirma que a Anvisa realiza vários testes antes de aprovar os implantes, mas nenhum deles afere o grau de pureza do gel de silicone utilizado - que é justamente o que diferencia o silicone médico do produto de uso industrial.

A Anvisa afirma, por meio da sua assessoria de imprensa, que não pretende "comentar a opinião do fabricante brasileiro de próteses mamárias". Mas diz que "quanto aos testes de padrão de pureza", a crítica não é justa. "No Brasil, as próteses mamárias seguem os requisitos técnicos estabelecidos por duas normas técnicas", justifica a agência. / FERNANDA BASSETTE e ALEXANDRE GONÇALVES