Título: No comando de um porteiner, Marcela 30 anos
Autor: Pereira, Renée
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/01/2012, Economia, p. B6

A tarde do dia 14 de dezembro foi especial para a catarinense Marcela Balsini de Alencar Harbs, de 30 anos. Casada e mãe de uma garota de dez anos, ela acabava de realizar mais um grande sonho. Não era nenhum carro novo nem a compra da casa própria. Muito menos uma proposta de trabalho num grande escritório. Ela havia acabado de receber a notícia de que, a partir daquele dia, seria a mais nova operadora de portêiner do Porto Itapoá - um cargo dominado por homens.

No Brasil, Marcela é a segunda mulher a pilotar o gigantesco equipamento de 60 metros de altura e 800 toneladas, que movimenta os contêineres nos navios. A outra profissional está no Nordeste. Naquele dia, Marcela não sabia como conter tanta alegria: "Estou superansiosa para começar. Era tudo que eu queria", diz ela, que começou sua carreira como secretária no Porto de Itajaí, também em Santa Catarina.

O cargo foi a porta de entrada no setor, mas estava longe das expectativas de Marcela, que queria operar um reach stacker (uma empilhadeira de grande porte). Controlado pelo Órgão Gestor de Mão de Obra (Ogmo), ela tinha poucas chances de sair do escritório e ir para o cais. Ali, a preferência era dos homens. Com a inauguração do Porto de Navegantes, do outro lado do Rio Itajaí, ela conseguiu a oportunidade que tanto queria.

Foi contratada, treinada e começou a operar a empilhadeira que tanto queria. Em pouco tempo já havia sido promovida para outro megaequipamento: o transtêiner (uma estrutura metálica em forma de trave que movimenta contêineres na área de armazenagem). Com a abertura do Porto Itapoá, tentou a sorte e foi selecionada para integrar a equipe de 400 funcionários. "Minha estreia aqui foi diferente. Eu já era experiente."

Nesse caso, ela não só mudou de trabalho como também de cidade, levando o marido e a filha. O gosto de Marcela pelas máquinas pesadas acabou influenciando até dentro de casa. O marido foi convencido a desistir da antiga profissão para explorar o setor de logística. Até se mudar para Itapoá, ele era confeiteiro. Mas, com uma operadora de portêiner em casa, decidiu comprar um caminhão-baú para atender à demanda da região, que anda bem aquecida nos últimos tempos com a inauguração do porto.