Título: R$ 1 bilhão em software
Autor: Cruz, Renato
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/01/2012, Economia, p. B10

Campinas e as cidades vizinhas concentram mais de 400 empresas de software, que empregam de 6 mil a 7 mil pessoas

O polo tecnológico de Campinas se desenvolveu ao redor da Unicamp e do CPqD, centro de pesquisas que pertencia à estatal de telecomunicações Telebrás, cujas operadoras foram privatizadas em 1998. Com o tempo, o que era um polo de telecomunicações foi se consolidando como um polo de software que chegou, no ano passado, a um faturamento de R$ 1 bilhão.

Em 2011, o polo entrou em uma nova fase. Cerca de 40 empresários de Campinas se uniram para criar a Inova Ventures Participações, um fundo para investir em empresas iniciantes. No Vale do Silício, esse é um movimento que existe a décadas, do empreendedor que se transforma em investidor e oferece, para as startups, dinheiro e conhecimento de mercado.

O fundo surgiu a partir de eventos da Unicamp Ventures, rede formada por empreendedores que saíram da universidade. Em encontros criados para que empresas nascentes tivessem aconselhamento de empresários mais experientes, a questão do financiamento sempre vinha à tona. Por isso, os empresários resolveram se reunir e investir nas startups.

A Softex, organização que tem como objetivo fomentar o setor de software, nasceu em Campinas. São 140 associadas das 400 empresas que existem na região.

"A maioria das empresas é pequena", afirmou Fabio Pagani, coordenador adjunto do Núcleo Softex Campinas. Enquanto a Ci&T, uma das maiores empresas de software da região, tem cerca de 1,2 mil funcionários, muitas têm apenas duas ou três pessoas trabalhando. "Existem empresa incubadas que são só os dois sócios." Ao todo, as empresas de software do polo empregam entre 6 mil e 7 mil pessoas.

A maior empresa a surgir de uma incubadora de Campinas foi a Movile, que pertence ao grupo sul-africano Naspers, que também tem 30% da Editora Abril. Ela foi criada com o nome Compera, em 1999, na incubadora da Unicamp. Atualmente, tem escritórios no Brasil e em cinco outros países da América Latina, e seus serviços móveis são usados por mais de 100 milhões de pessoas.

Empreendedorismo. "Entrei no curso de ciência de computação em 1983", disse Pagani. "No meio do curso, quis ser empresário. Naquela época, não era comum. Hoje, todo mundo quer ter uma empresa." Eduardo Coppo, diretor da Dextra, concordou: "Estamos em um outro momento. O empreendedorismo está mais em moda do que nunca esteve."

Criada em 1987, a Matera Systems desenvolve software para o setor financeiro. "Naquela época, a reserva de mercado tinha acabado de cair, e tudo era mais difícil", lembrou Carlos André Guimarães, diretor executivo da empresa. "A cada ano, tinha um plano econômico ou dois. Por isso, demoramos mais para crescer. Na época do Plano Collor (1990), perdemos 95% dos clientes. Fazíamos escambo porque ficamos sem capital. A empresa acabou ficando com muitos sócios. Como não tínhamos dinheiro, cada vez que precisávamos de um analista, ganhávamos um sócio."

Multiculturalismo. Outra empresa, a CI&T, faturou R$ 133 milhões no último ano. Cerca de 35% desse montante veio de fora. Fundada em 1995, ela atua no setor de serviços de tecnologia da informação, e esse setor tem passado por um processo de desnacionalização. Para se manter competitiva, a empresa tem feito um esforço para atuar no exterior.

A CI&T tem cerca de 150 funcionários no exterior, sendo cerca de 70 num centro de desenvolvimento na China. "No ano passado, nossa milésima funcionária por sorte foi uma russa, contratada pela CI&T China, por um chefe indiano, que tem um diretor japonês", disse Fernando Matt, diretor financeiro da empresa. "Esse multiculturalismo é uma característica que a gente está procurando."