Título: Grandes metas para 2012
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Fonte: O Estado de São Paulo, 01/01/2012, Notas e informações, p. A3

A presidente Dilma Rousseff entra em 2012 com uma agenda mais ambiciosa que a do primeiro ano de governo. Sua meta é um crescimento econômico na faixa de 4% a 5%, combinado com inflação mais perto do centro da meta - 4,5%. Mais uma vez o aumento do Produto Interno Bruto (PIB) dependerá do mercado interno, porque o resultado das transações de bens e serviços com o exterior continuará negativo. O roteiro do governo inclui um aumento substancial do investimento em infraestrutura, indispensável para a expansão da atividade nos próximos anos e também para a realização da Copa do Mundo. A meta de crescimento é a mesma do início de 2011, mas esta foi definida em condições mais favoráveis. O governo a abandonou, gradualmente, à medida em que piorava o cenário global e a indústria era acossada pelos concorrentes externos.

Apesar de tudo, o País chegou ao fim do ano com desemprego inferior a 6% nas seis maiores áreas metropolitanas, mercado interno ainda vigoroso e meta fiscal cumprida, mas com sinais de alerta nas contas externas.

Com menor otimismo, o Banco Central (BC) projeta para 2012 um PIB de 3,5% - maior que o do ano anterior. A estimativa para 2011 aponta uma expansão de 3%. Os cálculos finais poderão apontar um resultado pouco melhor ou pior que esse, mas isso não faz muita diferença para a avaliação do desempenho e das perspectivas econômicas. Também é irrelevante saber se o País chegou mesmo à sexta posição entre as maiores economias do mundo ou se continua no sétimo posto. Importante é saber se o País terá condições de continuar correndo no pelotão das maiores economias e de se aproximar dos melhores padrões de desenvolvimento tecnológico e social.

O crescimento econômico depende do aumento da produtividade e, portanto, de investimentos em capital fixo (infraestrutura, instalações, máquinas e equipamentos) e em tecnologia e capital humano. O Brasil continua mal em todos esses quesitos.

A formação bruta de capital fixo pode ter aumentado uns 5% em 2011, segundo o BC, mas continuou baixa como parcela do PIB - em torno de 20%. Esse tem sido o padrão nos últimos sete anos e a ambição é chegar a uns 25% nos próximos anos. O governo não tem sido capaz de realizar os investimentos previstos e, além disso, grandes projetos com participação privada continuam emperrados. Nem o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) avança mais depressa. Em 2011, o governo concentrou-se em projetos inacabados da gestão anterior.

Quanto à formação de capital humano, o cenário de desastre é bem conhecido. A maioria dos estudantes com diploma do ensino fundamental tem conhecimentos insuficientes de matemática e de linguagem.

Essas deficiências continuarão a afetar o crescimento. As contas externas serão prejudicadas não só pela crise global, mas também por problemas de competitividade. Segundo o BC, o valor das exportações de bens deverá aumentar 4,3%. O das importações, 7%. O superávit comercial, de cerca de US$ 28 bilhões em 2011, deverá cair para US$ 23 bilhões. O déficit em conta corrente deverá subir de US$ 53 bilhões para US$ 65 bilhões.

A crise deverá estabilizar ou derrubar os preços de commodities, principal fonte de receita comercial. O comércio de manufaturados continuará deficitário, por causa das dificuldades da indústria para competir. Vários setores produzem com eficiência, mas a produtividade geral da economia é prejudicada por fatores dependentes mais do governo - como infraestrutura e impostos - do que das empresas.

Para estimular a demanda interna e atenuar os efeitos da crise, o BC tem cortado os juros e o governo tentará investir mais. Para obter o resultado fiscal programado, o Executivo precisará conter a expansão do custeio e ser muito seletivo na liberação de recursos para os projetos de parlamentares. Será difícil, num ano de eleições municipais. Combinar redução de juros e mais estímulos fiscais com inflação próxima de 4,5% - cerca de 2 pontos menos que em 2011 - será um sério desafio. Se o governo descuidar da inflação, a segunda metade do mandato da presidente Dilma Rousseff será muito complicada. E feliz ano-novo!