Título: Crise internacional faz IGP-DI cair em 2011
Autor: Fernandes, Adriana
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/01/2012, Economia, p. B5

Com preço menor das commodities, o indicador recuou de 11,30% em 2010 para 5% no ano passado; atacado foi o principal responsável pela queda

A crise internacional, que deixou as commodities mais baratas em 2011, derrubou o Índice Geral de Preços - Disponibilidade Interna (IGP-DI).

Em 2011, o IGP-DI subiu 5%, menos da metade da alta registrada no ano anterior, de 11,3%. A taxa é utilizada para atualizar dívidas dos Estados com a União. Na comparação com o mês anterior, o índice caiu 0,16% em dezembro, após avançar 0,43% em novembro.

Foi a menor taxa em cinco meses. Mas sem contribuição do varejo, que representa 30% do índice e encerrou o ano passado com o mais intenso aumento de preços em sete anos (6,36%). A inflação dos serviços foi outro destaque, e vai continuar a pesar no bolso do consumidor em 2012.

O atacado freou o avanço da inflação de 2011 em dezembro. Com participação de 60% do IGP-DI, a inflação atacadista diminuiu de 13,85% para 4,12% de 2010 para o ano passado. Na margem (mês ante mês anterior), os preços caíram 0,55%, ante 0,34% em novembro.

"Esse recuo reflete a piora na conjuntura internacional e mostra menor ímpeto de compras. Isso reduz preços entre as commodities", explicou o coordenador de Análises de Econômicas da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Salomão Quadros.

Quadros não descartou a possibilidade de alimentos mais baratos no varejo em janeiro, beneficiados por commodities agropecuárias mais baratas. Isso, na prática, poderia ajudar a desacelerar o avanço de preços junto ao consumidor, que aumentou de 0,53% em novembro para 0,79% em dezembro.

Mas a provável perda de força na inflação do varejo este mês não vai atingir o setor de serviços, que ficou "praticamente inalterado" no ano passado, na avaliação do economista. De 2010 para 2011, a inflação de serviços acelerou de 5,43% para 6,94%. Entre os que mais subiram está o item alimentação fora de casa (de 7,48% para 8,19%).

"O ano vai começar com a inflação mais baixa, em comparação com os primeiros meses do ano passado. Mas é difícil fazer previsões sobre a inflação dos serviços", avaliou.

Núcleo. Um dos pontos de alerta detectado pelo especialista foi o comportamento do núcleo da inflação varejista, que exclui as principais quedas e as mais expressivas altas percebidas pelo consumidor, e subiu 0,62% em dezembro - a mais forte elevação em quase sete anos.

Utilizado para visualizar tendências na inflação, o núcleo subiu 5,51% em 2011, contra 5,18% em 2010. "Isso mostra persistência inflacionária", afirmou.

Reajustes. Outro fator de pressão em 2012 serão reajustes salariais na construção civil. A inflação no setor fechou 2011 em 7,49%, levemente abaixo da apurada em 2010 (7,77%), pressionada por mão de obra mais cara (de 10,41% para 10,44%).

"O reajuste de salário mínimo para este ano, de 14%, vai elevar ainda mais os preços de mão de obra no setor", alertou.

Para o mercado financeiro, a família dos IGPs não deve mostrar novas deflações em janeiro. A consultoria Tendências prevê alta de 0,15% para o Índice Geral de Preços - Mercado (IGP-M), usado para reajustar preços de aluguel.

Já a LCA Consultores espera taxa próxima à estabilidade para o Índice Geral de Preços -10 (IGP-10); e aumento de 0,30% para o IGP-DI, também em janeiro.