Título: Bancada evangélica diz que ministra é abortista e já pede sua demissão
Autor: Madueño, Denise
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/02/2012, Nacional, p. A10

Eleonora Menicucci, que esteve presa com Dilma, toma posse hoje sob ataque por ter posições pró legalização do aborto

A ministra Eleonora Menicucci toma posse hoje na Secretaria de Políticas para as Mulheres debaixo de ataques da bancada evangélica no Congresso, quase toda abrigada na base aliada. As posições públicas da ministra a favor do aborto junto com declarações do ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, no Fórum Social, no final do mês passado, acenderam a revolta nos parlamentares evangélicos.

Na tentativa de acalmar a bancada, uma nota do ministro Gilberto Carvalho foi lida no plenário da Câmara ontem. Além disso, Carvalho, católico militante, propôs uma reunião com os parlamentares evangélicos.

De forma contundente, o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) convocou os evangélicos a combaterem a nova ministra. "Não se iludam, a bancada de evangélicos se unirá não só para expressar a repulsa por essas declarações (do ministro Gilberto Carvalho), assim como para combater a abortista que nomearam ministra", escreveu Cunha no Twitter.

"Essa posse da abortista amanhã (hoje) é sintomática para todos nós e devemos mostrar de forma contundente a nossa revolta. Aborto não. Aliás, quando a gente lê várias declarações dessa nova ministra, ela está no lugar e na época errada, devia estar em Sodoma e Gomorra", completou o deputado.

Professora e socióloga, Eleonora declarou em entrevistas, assim que foi escolhida para o cargo pela presidente Dilma Rousseff, que considera a discussão do aborto no Brasil como uma questão de saúde pública, como as drogas, a dengue, o HIV e todas as doenças infectocontagiosas. Para ela, aborto não é uma questão ideológica.

Ministro. Há dois dias, os evangélicos estão em pé de guerra com o ministro Gilberto Carvalho. Anteontem, em discurso na bancada do Senado, o líder do PR, Magno Malta (ES), chamou o ministro de "safado", "mentiroso" e "camaleão". Segundo Malta, Carvalho teria dito no Fórum Social em Porto Alegre que a próxima batalha ideológica será com os evangélicos, "conservadores que têm uma visão do mundo controlada por pastores de televisão". Ontem, ele voltou a atacar: "Nós e os católicos vamos derrotar Haddad em São Paulo", ameaçou, ao se referir à retaliação contra Carvalho.

No universo de 101 mil inquéritos criminais que a Polícia Federal conduz em todo o País, menos de 300 estão acompanhados de procedimentos de interceptações de comunicações - telefônicas e telemáticas (e-mails). A informação é do delegado Roberto Ciciliatti Troncon Filho, superintendente regional da PF em São Paulo. Para ele, esse dado "evidentemente" derruba o mito de que o grampo é a principal ou a única arma da corporação no combate ao crime organizado.

"Na época em que houve a CPI sobre interceptações ilegais, com a suspeita de que um ministro do Supremo Tribunal Federal e um senador da República teriam tido suas comunicações interceptadas muito se falou, e a imprensa no afã de informar, acabou divulgando dados que não condizem com a realidade", afirma Troncon.

O levantamento sobre as escutas da PF é relativo ao mês de agosto de 2011. São exatamente 288 investigações abastecidas com revelações colhidas a partir de interceptações autorizadas judicialmente. "Isso significa apenas 0,21% do total das investigações criminais realizadas pela Polícia Federal", assinala Troncon, que foi diretor de Combate ao Crime Organizado, unidade da PF que rastreia corrupção, lavagem de dinheiro, desvios de recursos públicos e outras atividades ilícitas.

Segundo o delegado da PF, essa média permanece. "O dado é desatualizado propositalmente porque no período de dezembro e janeiro há uma redução, até pelas férias forenses, desse ritmo de investigações, das diligências. Mas um dado de agosto é bastante representativo, aliás, ele repete balanço anterior, divulgado em maio de 2010, mantendo a média histórica de que apenas 0,3% do total das investigações se utilizam das técnicas de interceptação das comunicações", explica.

Troncon destaca que a previsão legal no Brasil, hoje, é da excepcionalidade do grampo, ou seja, só é solicitado e consentido em situações extraordinárias. Ele anota que a Justiça exige "demonstração da efetiva necessidade (da escuta), quando outras técnicas não puderem ser utilizadas".

"É assim que acontece e está representado justamente nesse porcentual ínfimo das investigações da PF em que é necessário o uso da técnica de interceptação de comunicações. A maioria esmagadora versa sobre investigações de organizações criminosas das mais diferentes matizes, tráfico de drogas, pedofilia praticada pela internet, fraudes eletrônicas e que exploram crimes financeiros."

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