Título: Mata Atlântica tem taxa de desmate próximo de zero, afirma ministério
Autor: Salomon, Marta
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/02/2012, Vida, p. A16

Monitoramento por satélite mostra ainda queda do desmatamento no Pantanal e no Pampa entre 2008 e 2009; Cerrado é recordista no abate de árvores

A Mata Atlântica, o mais desmatado dos biomas brasileiros, registrou taxa de abate da vegetação nativa próxima de zero entre 2008 e 2009, segundo o mais recente monitoramento por satélite, apresentado ontem pelo Ministério do Meio Ambiente.

Seis dos Estados que compõem o bioma não registraram nenhuma área desmatada maior que 4 hectares (40 quilômetros quadrados), limite de "visão" das imagens de satélites.

Na média, a Mata Atlântica, que reúne parte do território de 15 Estados, teve 0,02% de desmatamento, ante 0,25% registrado entre 2002 e 2008. Até 2009, o bioma havia perdido 75,9% da vegetação nativa.

Em outros dois biomas que passaram a ter o desmatamento monitorado por satélites, o ministério também constatou queda no ritmo do desmatamento: o Pantanal perdeu 0,12% de sua vegetação nativa entre 2008 e 2009, e o Pampa, que já perdeu mais de metade (54,12%) de sua vegetação, registrou desmatamento de 0,18% no período.

"É uma boa notícia. O ritmo é muito menor que o registrado até 2008, mas a pressão ainda existe e precisamos aperfeiçoar a metodologia de monitoramento para orientar a fiscalização e a política de recuperação ou supressão legal da vegetação", disse a ministra Izabella Teixeira.

A Amazônia e o Cerrado têm dados de monitoramento mais recentes, por serem os biomas que mais perdem vegetação nativa no País. O Cerrado é o recordista em desmatamento - perdeu, entre 2008 e 2009, 7,6 mil quilômetros quadrados de vegetação nativa ou 0,37% de sua área total. No mesmo período, a Amazônia perdeu 7,4 mil quilômetros quadrados de floresta, o equivalente a 0,17% de sua área.

Apesar dessas quedas, o comando da área ambiental do governo aponta preocupação com a dinâmica do abate da vegetação nativa. No Pantanal, por exemplo, o desmatamento que avançava nas bordas do bioma passou a ser registrado nas áreas mais centrais. Corumbá foi o município que mais desmatou.

"É uma situação preocupante, comandada principalmente pela conversão da vegetação nativa em pastos para a criação de gado zebu", disse o secretário de Biodiversidade, Bráulio Dias, que deixou ontem o cargo para ocupar o posto de secretário executivo da Convenção sobre Diversidade Biológica das ONU.

Na Mata Atlântica, Dias explicou que os dados oficiais divergem dos divulgados pela entidade SOS Mata Atlântica porque o ministério considerou o limite estrito do bioma e não apenas a vegetação de florestas.

Os dados deverão reforçar o apoio do governo à reforma do Código Florestal já aprovada pelo Senado, que prevê a recomposição de parte das áreas de preservação permanente desmatadas. A votação na Câmara está prevista para o início de março.

Limite oficial. Para a SOS Mata Atlântica, apesar de os dados trazerem uma boa notícia, eles pedem algumas ponderações.

De acordo com Márcia Hirota, diretora da entidade, o monitoramento não levou em conta os limites oficiais do bioma, definidos na Lei da Mata Atlântica, de 2006. Ela incluiu as chamadas matas secas de Minas Gerais, Bahia e Piauí, mas essas áreas ficaram fora do cálculo.

"São áreas protegidas por lei, mas que têm sofrido forte ameaça", diz. Segundo a ONG, nos últimos anos, os maiores desmatamentos do bioma vêm sendo observados justamente nessas regiões. Em nota oficial, a SOS Mata Atlântica também criticou o posicionamento da ministra Izabella sobre o Código Florestal: "Reforça o equívoco, pois, com a aprovação do atual texto, a Mata Atlântica estará irremediavelmente condenada".

Dados do Sistema de Detecção do Desmatamento em Tempo Real (Deter), do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), divulgados no dia 2 mostraram que a Amazônia perdeu 207,6 quilômetros quadrados de floresta em novembro e dezembro de 2011.

Em novembro, os satélites observaram 133 km² de novos desmatamentos e, em dezembro, outros 74,6 km².

Nos mesmos meses de 2010, o Inpe havia registrado 113,61 km² e 21,31 km² de derrubadas, respectivamente.

No entanto, por causa das diferenças nas condições meteorológicas, o instituto evita comparações entre os períodos. Em 2011, as nuvens cobriram 47% da Amazônia em novembro e 44% em dezembro, o que dificulta o registro dos satélites.

Considerando os dois últimos meses do ano, o Estado do Pará liderou o rol do desmatamento no País, com 58,86 quilômetros quadrados a menos de florestas.