Título: Para UE e FMI, pacote não é suficiente
Autor: Chade, Jamil
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/02/2012, Economia, p. B3

Negociadores da União Europeia duvidam que o valor de 130 bilhões seja suficiente para resgatar o país e pedem mais garantias

Cansados das repetidas quebras de promessa dos gregos, ministros da União Europeia e a diretora do Fundo Monetário Internacional (FMI), Christine Lagarde, deram um verdadeiro banho de água fria na euforia que marcou o anúncio por parte de Atenas de que tinham um acordo. Numa reunião de emergência em Bruxelas, os xerifes das finanças europeias deixaram claro que o drama grego ainda não tinha terminado.

Ninguém nega que o principal desafio agora é a falta de credibilidade dos gregos em implementar o que prometem. Lagarde não deixou de comemorar os "sinais animadores", mas alertou: "Ainda resta muito a fazer". O que o FMI quer são garantias de que as eleições de abril no país não afetarão os compromissos assinados ontem. Para o porta-voz do FMI, Gerry Rice, a Grécia "tem de fazer mais" em cortes de gastos.

Jean-Claude Juncker, presidente do Eurogrupo, disse que ainda existiam "muitos pontos a esclarecer" para que a UE desse o sinal verde para o pacote. Segundo ele, se o Parlamento aprovar as medidas de austeridade no domingo e se outros passos concretos forem dados, a UE então estaria pronta para desembolsar a ajuda.

"Não temos todos os elementos para tomar decisões", explicou. Segundo ele, uma das prioridades agora é encontrar "rapidamente" uma fórmula para cortar os 325 milhões do orçamento, que viriam da redução de pensões, proposta que acabou barrada em Atenas.

"Pedimos medidas concretas, por meio de legislação e outras ações, para que os gregos possam convencer seus parceiros de que o plano pode funcionar", disse Olli Rehn, comissário de Economia da UE.

O ministro de Finanças da Alemanha, Wolfgang Schaueble, era o símbolo da desconfiança e queria saber como os gregos farão para reduzir a dívida atual de 160% do PIB para 120% em 2020. Na avaliação de diplomatas europeus, a realidade é que o acordo estava baseado em parâmetros de outubro de 2011, quando se pensava que 130 bilhões seriam suficientes para salvar a Grécia e o país poderia reduzir sua dívida.

Deterioração. Mas, desde então, a situação se deteriorou e hoje um grupo de governos chega a alertar que o valor acordado não seria mais suficiente. Mas Alemanha e Holanda lideram um bloco que se recusa a dar mais dinheiro aos gregos.

Em Paris, os bancos também negociavam um acordo com os gregos, aceitando um calote de 70%, ou seja, um desconto de mais de 100 bilhões. Um sinal de esperança foi a indicação de Mario Draghi, presidente do Banco Central Europeu, de que estava disposto a abrir mão dos lucros sobre 40 bilhões em papéis gregos. Isso significaria uma redução de 15 bilhões na dívida grega.

Mas os sinais de desconfiança são profundos. Alemanha e França tentaram convencer os demais governos de que a Grécia não tocaria no valor liberado. O fundo ficaria depositado numa conta controlada pela UE e seria gasto apenas com justificativas.

Essa é uma forma encontrada por Berlim para abandonar a ideia de intervenção direta na administração grega, mas mantendo o controle total sobre os gastos. O dinheiro depositado nessa conta especial serviria de colchão para uma eventual quebra da Grécia.

Se, mesmo depois do pacote, o país falir, o dinheiro seria usado para compensar as perdas dos credores, evitando que o calote grego se transformasse numa espécie de Lehman Brothers europeu, levando consigo bancos e outros países.