Título: A produtividade no setor industrial caiu em 2011
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/02/2012, Economia, p. B2

Embora os dados não sejam definitivos, tudo indica que, pela primeira vez desde 200o, a produtividade no setor industrial teria acusado um recuo. É um fato importante num período em que os salários reais continuam crescendo.

A produtividade depende essencialmente dos fatores de produção postos a serviço da mão de obra: bens de capital, organização e, naturalmente, no caso da agropecuária, do clima.

Para a indústria, os dados de 2011 já permitem ter uma ideia da evolução da produtividade. Segundo o IBGE, a produção física da indústria cresceu 0,3% no ano passado. E as horas trabalhadas, 0,9%, segundo a Confederação Nacional da Indústria (CNI). Os dados do IBGE incluem a indústria extrativa, que os da CNI não levam em conta, mas ainda assim se pode verificar que a produção física cresceu menos do que as horas trabalhadas, uma medida aproximada da produtividade. Não se pode comparar horas trabalhadas com o faturamento real, uma vez que neste dado estão os bens importados e a base de comparação tem de ser o valor adicionado, apenas.

Essa queda da produtividade merece reflexão. No ano passado, diante de uma demanda medíocre de bens produzidos no Brasil, a indústria nacional, que havia aumentando muito seus investimentos, aproveitando-se da taxa cambial, deixou de se modernizar, isto é, na Produtividade Total de Fatores (PTF) os equipamentos tiveram sua participação reduzida.

A diminuição do papel dos bens de capital desencadeia um aumento dos custos e explica em parte uma inflação maior. Além disso, houve queda da Utilização da Capacidade Instalada, que vai no mesmo sentido.

Todavia, apesar de uma produção menor (em termos de valor adicionado), o emprego cresceu 2,2% e a renda média real dos assalariados aumentou 3%, o que explica a elevação de 5,2% da massa salarial.

Essa tendência, para a indústria, é inflacionária, pois desde 1995 a produtividade ficou acima da evolução salarial na economia brasileira, o que permitiu manter a inflação num nível aceitável. Se a evolução registrada no ano passado continuasse, os reajustes salariais voltariam a ser um fator de inflação.

Nosso raciocínio tomou por base apenas a indústria, mas, levando em conta a administração pública e uma agricultura que procura aumentar sua produtividade por meio do uso da mecanização (equipamentos), de fertilizantes e da melhoria de sementes - o que justifica salários mais elevados -, vamos ter de observar se esses progressos são acompanhados de melhora da produtividade.