Título: Para Petrobrás, câmbio e preços foram vilões
Autor: Valle, Sabrina ; Torres, Sergio
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/02/2012, Economia, p. B3

Pressão do câmbio sobre os custos, preços internos e consumo elevado de derivados no País fizeram lucro da companhia recuar 5%, dizem diretores

A cúpula da Petrobrás creditou a queda de 5% no lucro da companhia em 2011 ao câmbio, ao preço interno do petróleo e ao consumo bastante alto de derivados no Brasil. Preponderante para os números finais de 2011, a derrubada do lucro no último trimestre resultou, segundo o diretor financeiro, Almir Barbassa, da pressão do câmbio sobre custos e da diferença do preço do petróleo em relação ao mercado internacional.

"Pode-se dividir a diferença (entre os lucros de 2010 e 2011). Mais de 50% foram para esses dois elementos", disse Barbassa em entrevista após palestra sobre os resultados financeiros e operacionais da petroleira no ano passado.

Para o ainda presidente José Sergio Gabrielli, que deixará o cargo na segunda-feira, após sete anos à frente da Petrobrás, um fator que influenciou no desempenho ruim das finanças no ano passado foi a demanda por derivados de petróleo.

Gabrielli revelou que a venda de derivados no mercado doméstico aumentou 9% em relação a 2010 e essa demanda, em expansão desde 2009, tem crescido três vezes mais do que o Produto Interno Bruto (PIB). Trata-se, segundo ele, de um problema conjuntural, não estrutural, já que, afirmou, a empresa apresenta grandes perspectivas de crescimento.

"A Petrobrás é uma nave andando em alta velocidade em rampa de crescimento", definiu Barbassa na abertura de sua explanação.

De acordo com Gabrielli, o momento da Petrobrás é de transição, com o crescimento expressivo de demanda sem que haja, de imediato, condições de aumentar a produção de derivados. A companhia está "no limite" quanto à produção de gasolina, querosene de aviação e nafta, entre outros derivados. A Refinaria Abreu e Lima (Pernambuco) deve ser inaugurada em meados de 2013. Há mais três refinarias sendo construídas.

"Essa transição se refletiu nos resultados do último trimestre", afirmou o presidente, que também citou questões operacionais enfrentadas em 2011, como atrasos no recebimento de equipamentos e paradas não programadas de plataformas.

Quarto trimestre. O lucro líquido da Petrobrás no ano passado foi de R$ 33,3 bilhões, 5% inferior ao de 2010, de R$ 35,2 bilhões. O desempenho no quarto trimestre teve influência decisiva no resultado. O lucro líquido caiu de R$ 6,336 bilhões no terceiro trimestre para R$ 5,049 bilhões no quarto, diferença de R$ 1,287 bilhão.

"O ano de 2011 deveria ter sido melhor, vendemos mais. Mas tivemos os elementos apontados", lamentou Barbassa.

Além do câmbio e dos preços, o diretor financeiro falou no número de poços secos contabilizados no quarto trimestre, maior do que a média. Ele não revelou quantos foram. Os poços secos são aquelas em que a empresa fura e não encontra petróleo.

Outro ponto que pesou no balanço da estatal no quarto trimestre, segundo Barbassa, foi a mudança na forma de contabilização de subsidiárias com controle compartilhado. Pelas novas regras, as subsidiárias passam a entrar no balanço apenas como equivalência patrimonial, o que afetou diretamente as vendas e o lucro bruto da estatal.