Título: Alta participação em prévia dá força a antichavistas para eleição de outubro
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Fonte: O Estado de São Paulo, 13/02/2012, Internacional, p. A10

Como era esperado, as filas foram maiores nas seções eleitorais de bairros de classe média, mas regiões mais pobres também registraram grande comparecimento

CARACAS - Boa parte dos eleitores venezuelanos desafiou ontem o presidente Hugo Chávez e saiu para votar nas prévias que definem o candidato único da oposição que o enfrentará na eleição presidencial de outubro. Como era esperado, as filas foram maiores nos bairros de classe média, mas mesmo em áreas mais pobres e antigos redutos chavistas houve participação expressiva de eleitores.

O fechamento das seções foi prorrogado em 1 hora, até as 17 horas locais (19h30 em Brasília), porque ainda havia filas. "Em todo o país, o povo saiu para votar, superando as expectativas que tínhamos", disse Teresa Albanes, presidente da Comissão Eleitoral de Primárias da Mesa da Unidade Democrática, a frente oposicionista, que reúne cinco candidatos a presidente. Além deles, disputaram as primárias também candidatos a governadores e a prefeitos para as eleições regionais marcadas para novembro. No total, foram escolhidos candidatos para 268 cargos, de um total de 1.037 postulantes.

O dia transcorreu com tranquilidade. As primárias tiveram o respaldo do Conselho Nacional Eleitoral, que forneceu as listas de eleitores e alugou as urnas eletrônicas, e das Forças Armadas, que mobilizaram 90 mil homens para garantir a ordem. Apenas queixas localizadas de irregularidades, como propaganda nas seções eleitorais, foram registradas. "A Comissão está satisfeita com o andamento do processo", declarou Teresa Albanês.

Os resultados deveriam sair no fim da noite de ontem, no horário de Brasília. O favorito para a candidatura presidencial, segundo as pesquisas, era o governador de Miranda, Henrique Capriles Radonski - de apenas 39 anos, que se define como alguém em busca da reconciliação, num país profundamente polarizado entre pró e antichavistas.

As pesquisas colocavam Capriles cerca de 20 pontos porcentuais à frente do segundo colocado, Pablo Pérez, de 42 anos, governador de Zulia, também definido como de centro-esquerda. Concorriam ainda a deputada María Corina Machado, o ex-senador e ex-chavista Pablo Medina e o diplomata Diego Arria.

Tão importante quanto o resultado, para a oposição, era o comparecimento. Todos os 18 milhões de eleitores venezuelanos podiam votar. Nas últimas eleições, para a Assembleia Nacional, em 2010, o país se mostrou dividido praticamente ao meio, com vitória por 51% a 49% para a oposição, que, mesmo assim, ficou em minoria no Parlamento, por causa do sistema proporcional de divisão por Estados.

A Comissão Eleitoral prometeu destruir as atas de votação 48 horas após o fechamentos das urnas e dirimidos eventuais questionamentos dos resultados. Mesmo assim, muitos funcionários públicos não foram votar, com receio de perseguição pelo governo, e da formação de "listas negras", como ocorreu no passado. "Não tenho medo de vir votar porque o governo não me dá de comer", disse Reynaldo Salas, de 22 anos, dono de um loja de celulares na capital.

Chávez participou ontem de um desfile militar pelo Dia da Juventude no Estado de Aragua. Parafraseando Simón Bolívar, herói da independência, o presidente declarou: "Independência ou nada. Não podemos permitir que se feche a porta de novo, que a Venezuela volte a perder sua independência." Sem fazer referência às primárias, Chávez lembrou o golpe militar fracassado, do qual participou, em 4 de fevereiro de 1992, e destacou que, só com essa independência, conquistada em seu governo, iniciado em 1999, a Venezuela poderá "ser um país potência, nessa parte do continente americano".

-------------------------------------------------------------------------------- adicionada no sistema em: 13/02/2012 05:03