Título: Criminosos diversificam área de atuação
Autor: Dias, Cristiane
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/02/2012, Internacional, p. A13

De acordo com o relatório da Stratfor, os cartéis de Sinaloa e os Zetas têm estilos diferentes que refletem a expressão popular mexicana "plata o plomo" (dinheiro ou chumbo).

Sinaloa prefere a primeira opção e obtém apoio por meio da propina. Os Zetas são menos sutis e preferem a política da bala. Seus líderes são ex-militares capazes de conseguir o que querem com o uso da força e a disseminação do terror.

A formação militar também faz com que os membros dos Zetas subam na hierarquia do cartel impulsionados pelo mérito, e não pelas conexões familiares, como ocorre com o cartel de Sinaloa.

Outra tendência é que a de que as duas organizações, cada vez mais, atuem em áreas distintas. Enquanto a de Sinaloa se mantém fiel ao comércio de cocaína, maconha e metanfetaminas, os Zetas diversificaram seus negócios ilícitos. Além do narcotráfico, o maior cartel do país fatura com sequestros, extorsões e com o contrabando de armas e de pessoas.

Em janeiro, o governo mexicano descobriu que os Zetas haviam entrado no ramo do petróleo. O cartel roubava o produto diretamente de plataformas e dutos da Pemex, estatal petrolífera do país, com a ajuda de funcionários da empresa.

No ano passado, a polícia mexicana matou ou prendeu 17 chefões dos Zetas e 10 de Sinaloa. Os cartéis, no entanto, repõem com facilidade as baixas que sofrem. Ambos refazem suas fileiras com militares desertores e aposentados. Cerca de 27 mil homens abandonam o Exército mexicano todos os anos.

Em março do ano passado, o governo reconheceu que não sabia o paradeiro de 1.680 militares de elite - que desapareceram levando armamento pesado. Outro problema são aqueles que já serviram o Exército, não encontram trabalho e viram mão de obra fácil para os cartéis.

Maureen Meyer, analista da ONG Washington Office on Latin America, acredita que o governo mexicano fracassou no combate ao tráfico. "A estratégia atual não está funcionando", disse Meyer ao Estado. Segundo ela, a política de perseguir os chefões desestabiliza os cartéis e causa um vácuo de poder que resulta em mais violência de diferentes facções passam a lutar entre si pelo comando do grupo.

A conclusão do relatório é que a única forma de diminuir a violência é o governo mexicano "permitir que um único cartel domine todo o país" ou que "consiga uma trégua entre os dois grupos hegemônicos, Zetas e Sinaloa".

Meyer e um número cada vez maior de especialistas mexicanos e americanos, porém, acreditam que a solução seja uma espécie de "dissuasão direcionada", que vem sendo adotada com sucesso em cidades dos EUA. O método descarta a tese do combate geral ao crime e prevê a concentração de todos os recursos disponíveis para exterminar a organização criminosa mais violenta. "Quando o trabalho for concluído, redireciona-se todos os recursos para o segundo grupo mais violento. E assim por diante", diz Meyer. / C.D.