Título: Graça assume Petrobras e declara fidelidade incondicional a Dilma
Autor: Leal, Luciana Nunes
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/02/2012, Economia, p. B6

Nova presidente defende conteúdo nacional, descarta nova rodada de licitação de blocos de petróleo e destaca preocupação ambiental

A nova presidente da Petrobrás, Maria das Graças Foster, tomou posse ontem em cerimônia na qual expôs sua "gratidão" e "fidelidade incondicional" à presidente Dilma Rousseff. Após a solenidade, Graça, como prefere ser chamada, defendeu a manutenção dos porcentuais de conteúdo local para a indústria do petróleo, disse que, para a companhia, a 11.ª rodada de licitação de blocos de petróleo não é fundamental e anunciou que tão cedo não haverá aumento no preços dos combustíveis.

Na entrevista, Graça destacou ainda que, em sua gestão, os procedimentos de segurança em relação ao meio ambiente serão tão importantes que todas as operações previstas, até mesmo as do pré-sal, poderão ser adiadas, por tempo indeterminado, caso haja riscos à natureza.

A possibilidade de os preços dos combustíveis subirem, como falou seu antecessor, José Sergio Gabrielli, em entrevista ao Estado no domingo passado, não está sendo considerada por enquanto, afirmou a nova presidente. "Em que momento aumentará o combustível?", perguntou, para responder em seguida: "Não está programado".

Graça conversaria à noite por, no máximo 30 minutos, com jornalistas. A entrevista durou quase o dobro. De modo sereno, ela expôs algumas das prováveis características da administração da companhia sob seu comando.

"Gestão, o foco é a gestão", afirmou, acrescentando ser uma executiva "bastante combativa", pois "discuto muito". "Para mim, é tudo em cima de números. (...) Estou aqui para defender a empresa." De acordo com a presidente, a exigência de conteúdo local persistirá por ser uma estratégia governamental para dotar as empresas nacionais da competitividade do mercado internacional.

"Para fazer igual aos chineses, à Coreia do Sul, temos tempo de aprendizado. As coisas estão acontecendo", disse ela. A média de conteúdo local nos contratos da Petrobrás e demais petroleiras varia de 62% a 65%, disse ela.

Licitação. Graça não demonstrou o menor entusiasmo pela licitação de blocos de petróleo, que há dois anos vem sendo adiada. Segundo ela, para a Petrobrás "não faz diferença", por ter "um cardápio espetacular" de áreas a serem exploradas.

A última rodada da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) ocorreu em 2008. Desde então, as empresas esperam a nova licitação que, embora autorizada pelo Conselho de Política Energética, jamais teve a data fixada pelo governo.

Pela primeira vez, a Petrobrás se manifesta de forma clara sobre suas expectativas acerca do leilão de 174 blocos, em terra e no mar, nas Regiões Norte e Nordeste. Quem falou foi a própria Graça Foster. "Se não acontecer, não modifica nossa prioridade."

A segurança das operações em alto-mar foi tema recorrente na entrevista. Após o acidente no Golfo do México em 2010, os procedimentos da Petrobrás tornaram-se muito mais rigorosos, disse Graça.

"É uma mudança muito forte. É uma mudança de atitude", falou ela, para a seguir revelar que não pensar em mudanças na diretoria. "Essa equipe de diretores e presidentes (...) é a minha equipe." Ela não arriscou qual será a produção da empresa este ano nem adiantou alterações no plano de investimentos 2011-2015. Disse apenas que analisará todos os números "com lupa".

A presidente afirmou ainda que a presença da Petrobrás em novos leilões de energia só ocorrerá caso obtenha licença prévia para a instalação de um quarto terminal de regaseificação no litoral.

A ausência da companhia no leilão realizado em 2011 decorreu, segundo ela, da mudança no edital da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), que passou a exigir a apresentação da licença do terminal antes da inclusão da capacidade de linha de oferta e demanda.

"Participar não significa ganhar. Com preços baixos da eólica, não temos competitividade com gás, com licença ou sem licença." / SERGIO TORRES, SABRINA VALLE, ANDRÉ MAGNABOSCO e LUCIANA NUNES LEAL