Título: Preocupação com regime sírio está ligada ao Irã
Autor: Chucra, Gustavo
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/02/2012, Internacional, p. A12

Enquanto Hillary Clinton promete esforços para impedir que o governo sírio obtenha mais armas, alguns especialistas sugerem que, talvez, os EUA tenham de ir além. No mínimo, deve ser necessária a aprovação tácita para o armamento da oposição síria. Uma jogada como essa pode levar a uma guerra civil, mas também a uma guerra indireta em uma região volátil. "Há elementos aqui que lembram o Afeganistão", diz Robert Malley, do International Crisis Group, referindo-se à luta dos mujahedin apoiados pelos EUA que, nos anos 80, resistiram à invasão soviética.

Os representantes do governo Obama têm insistido, até o momento, que os EUA não buscam uma intervenção militar na Síria. "Não se pode esperar uma outra Líbia", disse um funcionário do governo, falando sob condição de anonimato. "Existe o perigo cada vez maior de que outros adotem medidas para ajudar a oposição no caso da continuação do massacre promovido por Assad." Esses outros seriam Arábia Saudita, Catar e Turquia.

Desde que os protestos se espalharam pela Síria, 11 meses atrás, o governo Obama se esforça para evitar a impressão de que os EUA estariam tentando orquestrar um desfecho. Em especial, funcionários da Casa Branca disseram que não queriam dar ao Irã - país influente na Síria e principal fonte de apoio de Assad - um pretexto para intervir. A repressão de Damasco, em especial o ataque do fim de semana contra a cidade de Homs, parece ter frustrado os últimos esforços de Assad para evitar a imagem de uma mão pesada.

Funcionários do governo dos EUA dizem não ter a expectativa de que Assad possa sobreviver à tempestade e se manter no poder. No entanto, reconhecem que muitos fatores tornam a saída dele mais difícil do que a de outros presidentes derrubados, como Hosni Mubarak, no Egito, e Ben Ali, na Tunísia.

No centro das preocupações envolvendo a Síria está o Irã. Embora os governos de Tunísia, Egito, Líbia e Iêmen tenham sido derrubados, os levantes que resultaram nesse desfecho foram internos. Um colapso na Síria poderia levar a uma explosão que afetaria Irã, Líbano, Jordânia, Israel e até o Iraque, especialmente se a situação terminar numa guerra civil similar à iraquiana.

Com o Irã e o Hezbollah apoiando Damasco, os EUA e o Ocidente - já envolvidos em uma luta contra as ambições nucleares de Teerã - devem calcular o quanto a interferência na Síria poderia alterar a situação em relação aos iranianos. / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL