Título: EUA retiram diplomatas e fecham embaixada na Síria por segurança
Autor: Chucra, Gustavo
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/02/2012, Internacional, p. A12

Fim de conversa. Em nota, Departamento de Estado americano afirma que os 18 funcionários em Damasco, incluindo embaixador, voltarão para casa e Grã-Bretanha também anuncia saída de seu representante no país árabe; chanceler russo reúne-se hoje com Assad

Os EUA decidiram ontem fechar sua embaixada em Damasco, preocupados com a segurança de funcionários. Todos os 18 diplomatas, incluindo o embaixador Robert Ford, já deixaram a Síria e estão a caminho de Washington. Também ontem, a Grã-Bretanha retirou seu representante na Síria.

A decisão americana ocorre em meio a discussões de potências ocidentais e países árabes sobre qual deve ser a estratégia para lidar com a crise síria de agora em diante, já que o caminho da ONU parece bloqueado. No fim de semana, Rússia e China vetaram uma resolução do Conselho de Segurança condenando a violência e exortando o ditador Bashar Assad a iniciar uma transição. Em mais um dia de violência, as forças do regime teriam matado ontem 50 civis em Homs e 16 em outras cidades, segundo ativistas. A informação não pôde ser confirmada, pois a Síria restringe o trabalho de jornalistas.

"O recente aumento da violência, incluindo os atentados em Damasco em 23 de dezembro e 6 de janeiro, fez aumentar a preocupação em relação à proteção da nossa embaixada a ataques. Nós, juntamente com outras missões diplomáticas, expressamos esses temores ao governo sírio, mas o regime não respondeu adequadamente", disse a porta-voz do Departamento de Estado, Victoria Nuland, por meio de nota à imprensa.

Os atentados a que ela se referiu são atribuídos pelo governo sírio a "terroristas ligados à oposição". Os opositores dizem que o próprio regime teria organizado os ataques.

Apesar do fechamento da embaixada, Ford "será mantido como embaixador dos EUA para a Síria, trabalhando de Washington ". No comunicado, não fica claro se o embaixador sírio nos EUA deverá deixar Washington. Países do Golfo Pérsico já haviam fechado suas missões em Damasco.

Alguns analistas afirmavam que, além das questões de segurança, os EUA buscam com o fechamento da embaixada isolar ainda mais Assad. Em entrevista para a rede de TV NBC antes do Super Bowl no domingo, o presidente Barack Obama disse que continuará exercendo "mais e mais pressão" até que os EUA consigam ver uma transição. Ao mesmo tempo, o líder americano voltou a descartar a possibilidade de uma intervenção militar nos moldes da que ocorreu na Líbia.

A Rússia enviou seu chanceler, Sergei Lavrov, a Damasco, onde ele se reúne hoje com Assad. Especula-se que os russos já trabalham com a possibilidade de saída do líder sírio do poder, mas o Kremlin até agora não deu publicamente nenhum sinal nesse sentido. Moscou quer que o processo não tenha influência do Ocidente e, principalmente, pressiona para que parte do regime continue no poder, mantendo as relações próximas com os russos - que têm um entreposto militar em Tartus.

Na Síria, o regime fazia propaganda do que considera apoio da Rússia, China e também de países latino-americanos como Venezuela, Nicarágua e Cuba. De acordo com o jornal israelense Haaretz, há oficiais da Guarda Revolucionária do Irã atuando na repressão aos opositores na Síria.