Título: Participação da Infraero não prejudicou disputa
Autor: Pareira, Renée
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/02/2012, Economia, p. B1/5

"Os três consórcios poderão administrar os aeroportos da forma que desejarem", disse o presidente da estatal, que é dona de 49% dos terminais

Visto como um entrave à privatização dos aeroportos, a participação de 49% da Infraero não teve reflexo nas propostas do leilão de ontem. Exemplo disso foi o surpreendente ágio de 673% no Aeroporto de Brasília. O consórcio Inframerica, formado por Infravix (empresa do grupo Engevix) e a operadora argentina Corporación America, arrematou o terminal por R$ 4,5 bilhões.

Em agosto do ano passado, o grupo já havia ganhado a concessão do aeroporto São Gonçalo do Amarante, no Rio Grande do Norte, com uma oferta 228% superior ao preço mínimo estipulado. "Ao contrário do que possa parecer, temos satisfação em ser sócia da Infraero", afirmou o presidente da Engevix, José Antônio Sobrinho. Em contrapartida, a Infraero afirmou que não vai interferir na administração dos aeroportos. "Os três consórcios poderão administrar os aeroportos da forma que desejarem", disse o presidente da estatal, Gustavo do Vale, num clima de "paz e amor" com a iniciativa privada.

Viva voz. O consórcio Inframerica travou a maior disputa do leilão. Depois de ir para o viva voz, brigou por três rodadas com o grupo formado pela espanhola OHL. Foi o único aeroporto a ter proposta nessa fase. O leilão começou às 10 horas com a leitura das regras. Cinco minutos depois, começou a abertura dos envelopes com as propostas dos consórcios. Já no primeiro lance os investidores mostraram que estavam dispostos a acabar logo com a disputa.

O consórcio Aeroportos Brasil, formado por Triunfo, UTC Participações e a francesa Egis, ofereceu R$ 3,8 bilhões por Viracopos, de Campinas. O lance era 159,8% superior ao mínimo definido pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). E foi o vencedor. O aeroporto de Campinas é o que vai demandar maior volume de investimento, de R$ 8,7 bilhões. Mas as obras poderão ser diluídas ao longo da concessão, de 30 anos.

"Viracopos teve o menor ágio e ainda assim é muito grande. É um aeroporto de longo prazo, que tem todas as condições de se tornar o maior do Brasil", destacou o ministro da Secretaria de Aviação Civil, Wagner Bittencourt, que classificou o leilão como "bela disputa".

A expectativa é que os aeroportos leiloados ontem seja transferidos à iniciativa privada a partir de maio. A partir daí haverá um prazo de transição de seis meses para os consórcios tomarem pé da situação e definir o futuro de centenas de trabalhadores que hoje estão sob o regime da Infraero. É unanimidade entre os especialistas que estudaram os três aeroportos que há uma gordura grande para ser cortada nessa área. Um deles afirmou, por exemplo, que Viracopos tem cerca de 2 mil funcionários, mas precisaria de apenas 800.

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