Título: Parlamento Europeu pede corredor de ajuda
Autor: Chacra, Gustavo
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/02/2012, Internacional, p. A10

Entidade também diz que a União Europeia deveria restringir laços com a Síria, onde 40 pessoas foram mortas ontem

O Parlamento Europeu emitiu uma resolução pedindo a criação de corredores de ajuda humanitária na Síria e disse que a União Europeia deveria restringir as relações diplomáticas com Damasco. O gesto foi principalmente simbólico, pois o Parlamento não tem o poder de ditar os rumos das políticas nestas áreas.

"O (Parlamento) quer que corredores humanitários sejam criados e seja oferecido abrigo ao crescente número de desabrigados", disse Martin Schulz, presidente do Parlamento Europeu.

Depois de bombardear Homs por quase duas semanas, o Exército sírio deu início a uma nova ofensiva em Hama, cidade com um sangrento histórico de resistência ao pai do presidente Bashar Assad, Hafez Assad, que morreu em 2000.

Mais de 40 pessoas foram mortas ontem - 13 delas em Hama e 19 em Idleb. Na quinta-feira ao menos 14 pessoas foram mortas em um bombardeio à cidade de Kfar Nubouzeh, vizinha de Hama, disseram ativistas.

A agência de notícias estatal disse que forças de segurança "perseguiram e combateram um grupo de terroristas armados no bairro de Hamidiya, em Hama, que estavam intimidando as pessoas", e detiveram alguns de seus membros armados com fuzis e granadas propelidas por foguetes.

Forças sírias detiveram Mazen Darwich, defensor dos direitos humanos, e vários outros ativistas na quinta-feira depois de invadirem o escritório dele no centro de Damasco, disse outro membro da oposição.

Darwich, líder do Centro Sírio para a Mídia e a Liberdade de Expressão, manteve-se ativo na documentação de violações dos direitos humanos cometidas pelas forças de Assad durante a repressão.

Em Deraa, cidade próxima à fronteira com a Jordânia, o som de explosões e rajadas de metralhadora ecoava por distritos atacados por forças do governo, disseram os moradores.

"O bombardeio do Exército começou perto do raiar do dia, depois da troca de tiros", disse Hussam Izzedine, membro da organização Sawasiah, que defende os direitos humanos na Síria, desde Deraa. Ele afirmou à agência Reuters que o Exército Livre da Síria tem protegido as manifestações em algumas partes da cidade.

O Observatório Sírio de Direitos Humanos disse que três membros das forças de segurança foram mortos em combates com desertores do Exército.

Nenhum comentário foi feito pelas autoridades sírias com relação aos episódios. O governo sírio é rigoroso na restrição do acesso da mídia ao país.

Em abril, uma ofensiva do Exército acabou com grandes manifestações que ocorriam em Deraa, motivadas pela detenção de vários ativistas e pela detenção de meninos em idade escolar que tinham escrito nas paredes palavras de ordem em defesa da liberdade, inspirando-se em outras revoltas no mundo árabe.

A oferta de Assad, prevendo a realização de um referendo dentro de nove dias, levando a eleições pluripartidárias num prazo de 90 dias, foi recebida com desprezo pela oposição e pelo Ocidente. A Constituição permitiria que o presidente fosse eleito por dois mandatos de sete anos. O pai de Assad ocupou a presidência por 29 anos e foi sucedido pelo filho.

Segundo a oposição, mais de 7 mil pessoas foram mortas desde março, quanto tiveram início os levantes. O governo diz que mais de 2 mil soldados e policiais foram mortos por "terroristas" apoiados por estrangeiros. / REUTERS