Título: Grécia já tem acordo para corte de € 325 mi
Autor: Netto, Andrei
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/02/2012, Economia, p. B6

Esforço de líderes europeus para país evitar eleições começa a surtir efeito em Atenas

Depois de quatro dias de crise social e política na Grécia e de pressões da União Europeia pelo cancelamento das eleições de abril, Atenas teve enfim ontem uma notícia boa - pelo menos aos olhos de Bruxelas. Os partidos da coalizão que sustentam o governo de Lucas Papademos teriam chegado a um acordo sobre em que áreas serão feitos os cortes de € 325 milhões exigidos pela troica. Essa negociação era um dos pré-requisitos para que o acordo com os credores privados e a liberação do novo programa de socorro de € 130 bilhões fossem encaminhados.

O acordo em torno dos cortes teria sido fechado na noite de ontem, no Parlamento. Segundo a agência Reuters, a maior fatia do novo bloqueio de recursos será feito no Ministério da Defesa, que perderá € 100 milhões de seu orçamento. Outros € 90 milhões virão da antecipação do corte de salários de alguns setores do funcionalismo público. Restarão ainda € 135 milhões, cujos recursos serão economizados em despesas operacionais dos Ministérios do Interior, da Saúde e do Trabalho, incluindo cortes na Previdência.

No início da tarde, Christos Staikouras, deputado e conselheiro econômico do Nova Democracia (direita), partido que integra o governo de união de Papademos, confirmou ao Estado que o acordo havia acontecido. Segundo ele, até segunda-feira todos os detalhes pendentes com a União Europeia e o FMI estarão resolvidos, e o compromisso, firmado. "Na segunda-feira, vamos concluir tudo com a UE, porque teremos definido todos os detalhes sobre a missão de tapar o buraco dos € 325 milhões", afirmou.

Sinal. De acordo com o porta-voz do governo grego, Pantelis Kapsis, esse acerto permitirá à UE desbloquear os recursos do segundo plano de socorro, aprovado em outubro, mas até aqui bloqueado. "As negociações estão transcorrendo sem sobressaltos. Nós esperamos que o Eurogrupo dê o sinal verde e então iniciaremos os procedimentos do plano."

A Grécia precisa desses recursos para saldar um total de € 14,5 bilhões em títulos de sua dívida soberana que vencerão em março. Caso não cumpra sua obrigação, deve declarar calote nos pagamentos - hipótese que alguns especialistas europeus consideram inevitável, mas que Fundo Monetário Internacional (FMI) e União Europeia até aqui se recusam a aceitar.

Além desses recursos, a implantação efetiva das medidas de austeridade deve resultar na assinatura do acordo com credores privados para o perdão de € 100 bilhões da dívida pública do país, que chega a 159% do Produto Interno Bruto. De acordo com as estimativas do FMI, a operação poderia trazer a dívida grega ao patamar de 120% do PIB em 2020. Em Atenas, porém, analistas entendem que mesmo o corte não reduzirá a dívida nos próximos oito anos a menos de 129% da riqueza nacional.

Eleições. A dificuldade da Grécia de cumprir as metas estabelecidas com a troica é um dos fatores pelos quais Alemanha, Holanda e Finlândia aumentaram a pressão sobre o governo de Papademos nessa semana, até mesmo falando na possibilidade de calote de pagamento. Conforme o Estado informou ontem, a pressão da UE visa a obrigar os dois maiores partidos gregos - o Partido Socialista (Pasok), no poder, e o ND - a entrarem em acordo que permita o cancelamento das eleições legislativas, previstas para abril.

De acordo com pesquisas de opinião, o líder do ND, Antonis Samaris, é o favorito para vencer as eleições, mas a tendência é de fragmentação dos votos entre diversos partidos, o que exigiria a formação de um governo de coalizão - o que Bruxelas considera um risco. Papademos, ainda segundo as sondagens, não tem chances de ser eleito. Ontem, diferentes fontes em partidos políticos da Grécia com os quais o Estado conversou nos bastidores do Parlamento confirmaram que o governo da Alemanha manobra para evitar a eleição. No final da noite de quarta-feira, o ministro de Finanças alemão, Wolfgang Schaueble, insinuou que as eleições gregas caem na hora errada, quando o país deveria estar concentrado na renegociação da dívida e na implementação dos planos de austeridade. "Devemos nos perguntar: quem vai garantir que após as eleições a Grécia respeitará o que nós decidimos atualmente com o governo grego?", questionou.