Título: Políticos criticam cortes no Orçamento
Autor: Samarco, Christiane ; Brito, Ricardo
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/02/2012, Economia, p. B5

Para deputado da base aliada, 'o governo bebeu'; relator do Orçamento diz que vai haver um ajuste, pois 'um corte dessa magnitude'não se sustenta'

O anúncio do bloqueio das verbas incluídas no Orçamento de 2012 por meio de emendas parlamentares provocou reações diversas na Câmara: naturalidade, cautela e espanto. O líder do PR, deputado Lincoln Portela (MG), foi o mais enfático ao considerar "uma loucura total" cortar emendas, sejam elas destinadas pelas bancadas a obras prioritárias dos Estados ou destinadas individualmente pelos parlamentares aos municípios.

"Se for corte das emendas individuais, o governo bebeu. Se for emendas de bancadas, o governo também bebeu", reagiu o parlamentar mineiro.

Relator do Orçamento no Congresso, o deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP), reconheceu que haverá tensão, mas sugeriu cautela. "O Congresso não pode ter uma atitude orientada apenas por emendas", disse. "As emendas ganharão melhor condição de execução no final do ano. Naturalmente, vai ter um ajuste no decorrer do ano. Um corte dessa magnitude não se sustenta."

No PMDB,, a reação inicial foi semelhante. "Contingenciamento é um gesto político e feito todo ano. Quem tem um pouquinho de experiência não se assusta. Ninguém duvida que isso será reposto", afirmou o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ).

Na oposição, a reação foi vincular o corte à falta de rigor nas despesas públicas. O líder do PSDB, Bruno Araújo (PE), afirmou que o bloqueio poderia ser menor, caso o governo cortasse gastos e reduzisse o número de ministérios, hoje em 38. "O governo opta por contingenciar o Orçamento, que foi discutido e votado pelo Congresso, em vez de reduzir seus gastos de forma mais drástica."

O senador Clésio Andrade (sem partido-MG), que se desfiliou do PR em dezembro e entrará no PMDB em março, disse que a decisão do governo é "inaceitável e inadmissível". "É um desapreço do Executivo em relação ao Legislativo."

Só depois do carnaval o governo terá a medida exata da revolta da base aliada. Em um sinal claro de que o ambiente político é sempre mais tenso em ano de eleição, o vice-líder do PMDB na Câmara, Edinho Bez (SC), anunciou que a ala descontente vai se reunir logo após os feriados para organizar a reação ao Planalto.

No Senado, onde os parlamentares dependem menos dos prefeitos para se reelegerem, a revolta é menor. Mais compreensivo, o líder do PR, Blairo Maggi (MT), pondera que o cenário de crise global recomenda cautela. "Prefiro que o governo diga logo que não tem dinheiro para atender às emendas, do que fique empurrando com a barriga. Jogo combinado não é problema para mim."