Título: Unida, oposição venezuelana escolhe candidato para enfrentar Chávez
Autor: Sant"Anna, Lourival
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/02/2012, Internacional, p. A12/13

Grupos que elegerão neste domingo um nome que os representará na eleição de outubro

CARACAS - Há 13 anos no poder, o presidente Hugo Chávez deverá enfrentar pela primeira vez um candidato único da oposição, ao tentar a reeleição em outubro. Cinco candidatos oposicionistas disputam neste sábado eleições primárias unificadas, para escolher o adversário de Chávez.

Eles ocupam todo o espectro ideológico, da direita à esquerda, mas estão unidos no propósito de derrotar o até agora invencível Chávez, financiado por petrodólares e apoiado na máquina do Estado, cada vez mais poderosa.

As pesquisas ainda indicam Chávez - beneficiado por um recente câncer que despertou compaixão em muitos eleitores que faziam menção de abandoná-lo - como favorito nessa quarta eleição presidencial da qual participa, com 56% a 44%. Mas a esperança da oposição é a de que, uma vez adquirindo "um rosto", seu candidato possa crescer nas intenções de voto. O mais cotado para vencer as primárias é o governador do Estado de Miranda, Henrique Capriles Radonski, que antes foi prefeito de Baruta, um distrito de Caracas.

Embora esteja muito identificado com a capital, que se situa dentro de Miranda, Capriles, de 39 anos, ganhou projeção nacional como um jovem e bem-apessoado líder oposicionista, e percorreu o interior do país nas últimas semanas. Seu partido, Primeiro Justiça, é considerado de centro-direita, mas ele se define como de centro-esquerda, enfatizou na campanha suas preocupações sociais e assumiu um discurso de "reconciliação nacional", estendendo a mão aos chavistas.

Em contraste, a deputada María Corina Machado, a única mulher dos cinco candidatos, salientou sua diferença em relação a Chávez, com uma campanha a favor da iniciativa privada, contra o "socialismo bolivariano", que tem incluído confiscos de propriedades e de empresas. "Expropriar é roubar", disse ela a Chávez na abertura da sessão do Parlamento em janeiro, e a frase tornou-se célebre. Deputada mais bem votada da Venezuela, María Corina notabilizou-se como vice-presidente da ONG Súmate, de defesa da democracia, e, aos 44 anos, também representa uma liderança jovem, de centro-direita.

Em segundo lugar nas pesquisas, depois de Capriles, está Pablo Pérez, governador de Zulia, Estado produtor de petróleo. Advogado, de 42 anos, Pérez tem um perfil de centro-esquerda. Embora também defenda a reconciliação, ele fez uma campanha centrada no fim da impunidade, atacando dois problemas que afligem os venezuelanos: a criminalidade e a corrupção. Os outros dois candidatos, Pablo Medina, de 64 anos, um ex-chavista que se tornou feroz crítico do presidente, e Diego Arria, de 73, doutor em economia e diplomata, têm menos chances.

Muitos eleitores têm medo de serem perseguidos pelo governo, se participarem das primárias. Para afastar esse receio, a Mesa da Unidade Democrática, que reúne os oposicionistas, promete apagar, amanhã, os arquivos dos votos, que são digitados em urnas eletrônicas, como no Brasil. O resultado deve sair esta noite.

Uma participação expressiva representará uma vitória para a oposição. Mas nem todos os que comparecerão hoje pretendem votar na oposição em outubro. O pedreiro José Figueroa, de 42 anos, conta que vai votar em Capriles neste domingo e em Chávez no dia 7 de outubro: "É um dos presidentes que mais se dedicaram aos pobres na Venezuela. Os outros não se inclinaram em direção aos pobres".

Capriles é o preferido também de León Espuma, funcionário de uma empresa de segurança, de 56 anos. "É um jovem bem preparado, está bem respaldado, bem assessorado", diz Espuma, que não gosta de Chávez: "Não simpatizo, não me agrada. Tem sabido levar, e não tem convencido".

A experiência, como prefeito e agora governador, é o atributo mais valorizado pelos eleitores de Capriles. "Acho que até agora é quem tem um pouco de experiência e teria a capacidade de administrar", espera Hercris Pérez, estudante de Comunicação de 21 anos. María Uzcatel, uma dona de casa de 55 anos, enumera as coisas que espera de Capriles: "segurança, educação, moradia e saúde".

Nas eleições para o Parlamento, em 2010, a oposição teve mais votos que o governo - 51% a 49% -, mas acabou com menos cadeiras, pelo sistema proporcional. Mas pela primeira vez enfrentará unida o carisma pessoal de Chávez.