Título: Pioneira no porto digital, a provider muda para crescer
Autor: Cruz, Renato
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/01/2012, Economia, p. B6/7

A Provider foi criada em 1996 no Recife. Ainda não havia o Porto Digital, projeto que tornou a cidade referência nacional em tecnologia da informação. Uma das maiores empresas da região, com mais de 10 mil funcionários, a Provider faturou R$ 230 milhões em 2010, e previa chegar a R$ 250 milhões no ano passado.

Com esse faturamento, a Provider chegou a um nível no qual estão poucas empresas brasileiras de tecnologia da informação. Para continuar crescendo, a companhia resolveu profissionalizar a gestão e ampliar sua atuação.

"Há dois anos, começou o processo de reestruturação", diz Moises Assayag, diretor-presidente do Grupo Provider desde outubro de 2010. "Há um ano, os sócios foram para o conselho. Agora, traçamos um plano de expansão orgânica e inorgânica."

O Porto Digital foi criado em 2000, com o objetivo de transformar o Recife num polo de software de classe mundial. Na época, as empresas locais não eram suficientes para absorver os profissionais da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), que acabavam indo para outros Estados ou para o exterior. O primeiro passo da mudança havia sido dado em 1996, com a criação do Cesar, instituto que surgiu a partir centro de informática da UFPE, para atender o mercado, por iniciativa do professor Silvio Meira.

Instalado em uma área de 100 hectares no centro histórico do Recife, o Porto Digital é suportado por uma rede de oito quilômetros de fibras ópticas. O porto abriga cerca de 200 empresas, que faturaram R$ 1 bilhão em 2010.

Além das companhias locais, estão presentes multinacionais como Accenture, IBM e Microsoft. Diante da demanda por espaço, o Porto Digital está se expandindo para o bairro de Santo Amaro, vizinho à área atual, e também planeja abrir um escritório em São Paulo.

Crise. "Fui um dos fundadores e conselheiros do Porto Digital", diz João Luiz Perez, que criou a Provider há 15 anos, com os sócios Arnaldo Haimenis, Edgar Belo e Maurício Figueiredo. Ele conta que a necessidade de mudar a empresa surgiu com a crise internacional, entre o fim de 2008 e começo de 2009.

"Tivemos de rever contratos", diz Perez. "Muitos clientes internacionais tiveram de fazer remessas para as matrizes." Naquele momento difícil, a Provider percebeu que vinha crescendo desordenadamente. A empresa teve de cortar 300 funcionários, e resolveu contratar executivos no mercado e rever processos.

Se, em 2000, havia sobra de profissionais no Recife, agora o cenário começa a ser de escassez, como em outros grandes mercados de tecnologia de informação do País, como São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília.

"A gente costumava falar que, quando balançava um coqueiro, caía um programador Java", diz o fundador da Provider. Para ocupar os cargos de gerência e diretoria, a Provider teve de atrair executivos de fora. A empresa publicou anúncios no Estadão e no Estado de Minas, mostrando as vantagens de se trabalhar no Recife.

O mercado mudou bastante desde a criação da Provider. Perez disse que o ambiente hoje, para a criação de empresas, é muito diferente da época em que fundou a Provider. "O ambiente é muito mais favorável", garante. "A universidade está formando jovens para empreender." Perez destacou que quem quer criar uma empresa precisa dar muita atenção ao processo de organização e controle. "O profissional de TI pensa muito no lado técnico."

Os principais serviços oferecidos pela Provider são central de atendimento, terceirização de processos de negócios e fábrica de software. Fora do Brasil, tem escritórios no Chile e em Angola. Entre os clientes estão o Banco Itaú, Coelce, Hipercard, INSS, o Poupatempo de São Paulo e a previdência social de Angola.

Investimento. Em novembro, a Provider fez uma apresentação no 6.º Fórum Abertura de Capital, promovido pela BM&FBovespa e pela Financiadora de Projetos (Finep), do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação. Na plateia, estavam investidores institucionais, gestores de capital de risco, bancos e corretoras.

Segundo Perez, o objetivo da companhia é levantar um investimento de R$ 120 milhões, sendo metade para capital de giro e reestruturação e metade para aquisições.

"Procuramos um sócio estratégico, para sair do crescimento orgânico", diz o empreendedor. "Já contratamos um assessor para fusões e aquisições." Com o investimento, a Provider espera conseguir dobrar o faturamento e abrir o capital.

A Provider é uma das poucas empresas de capital nacional com esse porte no mercado de serviços de tecnologia da informação. Nos últimos anos, o setor passou por uma consolidação forte e atraiu interesse estrangeiro. A CPM Braxis, que foi uma das protagonistas desse movimento, acabou sendo comprada pela francesa Capgemini. A Tivit, outra consolidadora, foi adquirida pelo fundo britânico Apax Partners.